atrasar o relógio
uma década ou um século
depois desta meia-noite?
Preciso do modelo vivo.
Chega o corpo do país.
Preparo as tintas
de cor nenhuma.
Corpo jovem e escuro
coberto de correntes.
Para a carne ou para o ferro
preparo a cor nenhuma?
O modelo vivo treme,
não consegue posar.
Com que tintas se retrata
o tremor que não passa?
O modelo treme e cai.
Do chão, terá a justiça.
Que tintas para pintar
a lei que derruba?
Eis o corpo do futuro:
o primeiro modelo morto.
Como pintar um horizonte
que à penalidade se reduza?
Não o chutaram de lá.
Da justiça, terá o chão.
Eis o modelo para quem
quiser pintar o país.
Escorre um filete do modelo,
mais frio do que o chão,
mais chão do que o frio.
Nele vejo a paleta
toda da cor nenhuma.
anacrônicos, os relógios;
em que década,
em que século estamos
que é sempre meia-noite?
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