O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras e instauram a desordem entre os dois campos.
Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem"; próximas, sempre.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Desarquivando o Brasil CLII: Enquanto isso, exposição de Fernando Vilela



No dia 9 de fevereiro de 2019, falarei com Sílvia Nogueira, Rodrigo Villela e o artista e escritor Fernando Vilela sobre a exposição "Enquanto isso", em que este artista, entre outras coisas, trata de temas da ditadura militar. A discussão ocorrerá em São Paulo, na Biblioteca Mário de Andrade às 11 horas.
Minha breve fala terá como objeto a questão da arte de testemunho, seguindo as categorias de Philippe Mesnard em Témoignage en résistance, para entender estas obras de Fernando Vilela no âmbito da configuração crítica: a exposição não busca uma "transparência da linguagem em relação ao mundo", mas uma linguagem analítica que, aceitando não dar conta do mundo, mantém a crítica em relação ao mundo e a si mesma.
Entre os objetos expostos, estão livros censurados que estão presos dentro de livros de aço (bem como um manual de tortura da CIA). Mas há também desenhos, e muitos deles articulam uma relação com a música. Há coisas sendo caladas e outras sendo ditas, e não são da mesma ordem. Para entender o poder, não se pode reduzi-lo (é a lição de Foucault) a uma instância que cala ou reprime. Ele também faz falar.
É curioso que Fernando Vilela tenha escolhido a música para abordar essa questão, e tentarei tratar disto e dos usos dessa arte na ditadura militar brasileira, especialmente no tocante aos crimes contra a humanidade.
Enfim, buscarei pensar a questão da arte de testemunho dos filhos dos presos políticos, como é o caso de Fernando Vilela, embora não tenhamos no Brasil um movimento como o dos H.I.J.O.S. argentinos.
A exposição continua até 24 de fevereiro.