comprimia-se todo um país?
Claro que não, reveja o vídeo,
a mala parece pesada.
Quem carregava para a presidência
a mala noturna?
Sim, vós carregastes para a noite
toda a presidência
e tornastes o dia impossível
pois não há luz no interior da mala
e já não restou nada fora dela
a que se possa chamar um país.
A mala noturna da presidência
tinha a mesma cor da bandeira do país?
Não, pois as coisas mortas
não podem emular o ligeiro colorido das vivas,
no vídeo a mala andava a grande velocidade.
De quem era o couro
da mala noturna da presidência?
O perfeito material
ainda vibrava
das tentativas inúteis dos humanos
de escapar aos golpes
que lhes arrancaram pele e convicções
sobre a noite,
maior que o país,
cobre-o inteiro
agora que seus tecidos mostram-se nus,
sem epitélio algum,
depois que a presidência por eles passou.
Aberta, ela se tornaria uma nova caixa de Pandora?
Seria inútil, veja que o infortúnio já estava livre
e a carregava e recebia.
Tampouco presidência há,
mas um oco
de que agora tudo é feito.
O pó sobre a mala noturna da presidência,
é verdade que, quando ele é varrido pelo vento,
torna-se todo o território do país?
No vídeo a pressa de carregá-la
mais do que a ciclones na atmosfera
levou a irregularidades no território,
buracos onde o passo pesou mais firme
e nos quais o próprio país caiu
e não foi mais visto.
Se você fosse despachado
na mala noturna da presidência,
alguém quereria recebê-lo,
alguém ousaria abri-la
sem temer o trabalho
de esvaziá-la e lavá-la
de ter carregado
algo não monetário,
isto é, sem higiene, sem
o caráter de ente vivo
e móvel sobre o mundo?
Tampouco sei se é noite
fora da mala e da presidência,
depois de horas de interrogatório
perde-se a noção das horas, dos dias,
da fome, da sede, dos pingos
de sangue já indiscerníveis no chão,
dos gritos, dos choques, das varas,
dos projetos legislativos e dos lanches judiciais,
perde-se a noção,
afirma-se apenas a certeza
de que continuo em meu país.
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