O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras e instauram a desordem entre os dois campos.
Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem"; próximas, sempre.

sábado, 20 de abril de 2013

Relatoria do Direito à Cidade e direito à moradia em Belo Horizonte


Recebi este cartaz para divulgação. Dias 21 e 22 de abril, a Relatoria do Direito Humano à Cidade realizará uma missão em Belo Horizonte para averiguar as violações ao direito à moradia, agora causadas principalmente pelos empreendimentos para a Copa do Mundo.




Trata-se de iniciativa da Plataforma Brasileira de Direitos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais, ou Dhesca (http://www.dhescbrasil.org.br/).
Nos idos de 1995, participei de um seminário, "Os desafios da cidade informal", preparatório em Belo Horizonte para a conferência Habitat da ONU, realizada no ano seguinte. Ele resultou em um livro de quase 600 páginas, cheios de experiências a respeito de assentamentos informais, participação popular, serviços urbanos, tecnologia para infra-estrutura urbana etc. Havia muitos estrangeiros. A prefeitura havia organizado tudo de forma que políticos, acadêmicos e técnicos monopolizavam as falas, mostrando bem sua concepção do que significavam os programas populares de habitação: tratava-se de algo para silenciar a população.
No entanto, após a fala de procuradoras do Município, na vez das perguntas do público, um representante de favelas da cidade tomou a voz para fazer a denúncia: o programa de regularização criado pelo Município exigia na prática que os imóveis tivessem saneamento básico, que não estava sendo implantado pelos poderes públicos. Isso deixava de fora a esmagadora maioria das moradias nas favelas... E era a prefeitura de Patruas Ananias, no entanto elogiada por ter ampliado a participação popular, o que, de fato, havia ocorrido.
As procuradoras apenas sorriram, constrangidas, e nada responderam. Não me esqueço que alguns estrangeiros riram, e outros ficaram boquiabertos.
Percebi então que não se podem criar eventos como esse, muito menos as políticas congêneres, sem a voz da população interessada. Trata-se de condição simultaneamente metodológica (para o sucesso técnico dessas políticas), política e jurídica (trata-se de uma exigência do Estado democrático), a que a Plataforma Dhesca parece-me bem atenta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário