I
São
lixeiros ou vândalos? Pergunta
a
bomba de gás ao braço fardado, e ouve
estão parados quando
deveriam movimentar-se,
violam a lei geral da
ação,
sinal de que não
querem mais pertencer
ao mundo dos seres
animados.
São
lixeiros ou terroristas? Indaga
o
líder sindical ao moedeiro patronal, e ouve
gritam quando
deveriam calar-se
e a palavra explode
sobre a ordem,
ou talvez incendeie
as cédulas
e eles alimentem-se
das cinzas.
São
vândalos ou terroristas, afirma
o
jornalista aos anunciantes, grita
agitam-se nas ruas
quando deveriam se acalmar
para limpar as ruas
do lixo ruidoso
deixado pelo incêndio
que fala
há uma lei geral que
são as praças.
II
Levantam
o cartaz: não somos
lixo, mas, se o fôssemos,
contaminaríamos as
ruas
e nada em teu corpo e
em tua ordem
sobreviveria à infecção.
III
vi
o mar vi o
rio
mas era
somente
o lixo
que
estava limpo
pois
nada nele
era
querido
pelo
poder
vi
o mar vi o
rio
mas era
somente
o grito
a
gerar ondas
sem
ser ouvido
não
eram hinos
para
o poder
vi
o mar vi o
rio
nadei
em
outro líquido
onde
naufraga
quem
se embriaga
do
sangue tinto
pelo
poder
vi
o mar vi o
rio
banhei-me
porém
no abismo
ele
transborda
do
que é digno
já
que aos cimos
foge
o poder
IV
Nada
de estimular este trabalho;
insalubre
demais, paga tão pouco.
Gritas
por salário, ele soa rouco.
Nada
de incentivo ao que era de escravos.
Nós
te pagamos entre o nulo e o menos
porque
força é mudares de vida,
ficarias
nesta função ainda
caso
este labor rendesse dinheiro.
Ao
escultor e ao faxineiro o bronze
não
se molda igualmente lucrativo.
Salário,
pois, não deve ser o motivo
para
que cruzes os braços logo hoje.
Para
teu bem, toma a vassoura e te ergue.
Empreendedores
não fazem greve.
V
Não
vês a cidade porque soterrada por plástico
e
outros derivados,
porém
vês a cidade pois avistas o lixo e,
mais
do que isso,
não
precisas abrir os olhos,
basta
respirar
para
saber que a cidade revela-se em seus sucedâneos da terra.
–
Veja a foto dos garis na praça; não há nenhum branco.
–
Ótimo, mais um argumento para eu dizer na tevê que a greve é criminosa.
Atividade
inumerável nas ruas,
mas
uma greve
é
o que basta para revelar a cidade.
Isto
que se impõe aos sentidos
e
até aos olhos cerrados.
A
greve ensina ciência política
(latas
explodindo bueiros)
(bueiros
amamentando ratos)
(ratos
mas onde é a matéria
reinam
as bactérias
que
devolvem a cidade a ela mesma
fazem
tudo retornar a si mesmo
como
o prefeito aos protozoários)
–
Vândalos picharam o muro da prefeitura, que ainda não foi limpo pelos lixeiros
que voltaram da greve e tiveram suas reivindicações atendidas; agora, notícias
sobre terrorismo.
A
greve ensina ciência política
(vírus
gigantes despertados pela fumaça
da
fricção entre industriais e ministros)
ou
que é o lixo
que
está no poder
Parabéns Renata..
ResponderExcluirAfinal um professor dessa grandeza dedicou um texto à você.
Ciúmes de ex - aluna!
Se é que esse termo existe...