Com sorte, darei no dia 19 de novembro de 2019 uma aula sobre o poeta, prosador, dramaturgo, crítico, performer, artista plástico, ensaísta e tradutor Alberto Pimenta no Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (IEL-Unicamp). Ele é uma figura tão vasta e de tão diversos talentos nas literaturas de língua portuguesa que é impossível fazer-lhe justiça, mas tentarei sugerir sua grandeza.
A fala se dará no âmbito do ciclo No meio o mar profundo: poetas portugueses lidos por poetas brasileiros, organizado pelo professor, poeta, dramaturgo e crítico Eduardo Sterzi, que me convidou, e a quem agradeço. O título completo do que farei será "Senti-me também pisado, condição para a capacidade de escrita": A inexistência de Alberto Pimenta revisitada.
Escrevi um ensaio sobre a inexistência deste autor para a extinta revista digital portuguesa Ciberkiosk. É um dos poucos textos que escrevi que é realmente citado, e primeiro por ninguém menos do que Maria Irene Ramalho, em Século de ouro, a antologia da poesia do século XX que Osvaldo Manuel Silvestre e Pedro Serra organizaram para a antiga editora Angelus Novus há mais de quinze anos.
Publiquei-o aqui faz tempo. Nele, depois de constatar que em certos locais ou publicações, em Portugal ou no Brasil, agia-se como se Pimenta não existisse, quis entender que a inexistência também estava presente na obra como forma de estratégia poética do autor.
Expandi o texto para o posfácio da antologia de Pimenta que organizei em 2004, A encomenda do silêncio, publicado pela Odradek. Entre outros sinais inquietantes, a própria editora deixou de existir, e a citação "Senti-me também pisado, condição para a capacidade de escrita" vem de uma entrevista que sairia em um periódico do governo federal que foi extinto antes de poder fazê-lo. Acabei publicando-a aqui mesmo.
De 2004 para cá, creio, aquela estratégia ganhou outro sentido, antes como imagem ou como objeto do que como procedimento. Será esse meu tema no dia, espero, conduzido por aquela frase que indica o teor de combate desta poética.
Na primeira e única reunião que fez de sua poesia, Obra quase incompleta, em 1990, hoje incompletíssima, faltou o parágrafo final do artigo "Liberdade e aceitabilidade da obra literária", que publicou na Colóquio Letras em julho de 1976. Nunca entendi a razão, pois o julgava importante e necessário. Certa vez, perguntei-lhe e ele me contou que simplesmente não cabia na página e o livro já estava volumoso demais (quatrocentas e quatro páginas), por isso o editor cortou-o.
A liberdade da obra literária pode implicar a inaceitabilidade pelo público, pelo poder estabelecido e pelo sistema literário? Deixo este final aqui como indicativo desta poética de combate, que escritores e críticos oficiais ou oficiosos preferem pretender que não haja, ou preceituam que não deveria existir.
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