O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras. Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem".

sábado, 11 de fevereiro de 2023

Aniversário da Patuá: um depoimento sobre Eduardo Lacerda



Eu publiquei quatro livros na Patuá, que agora faz doze anos: um de contos, Cidadania da bomba, em 2015; dois de poesia, O desvio das gentes (2019) e Assassinato e ascensão do grande escritor (seguidos de Antologia completa) (2022) e um romance, Gravata lavada (2019). Falo, a pedido da editora, a partir dessa experiência.
Nesse modelo de negócio, a editora nada cobra dos autores (embora não recuse, ao contrário da Averno, livros subsidiados); como a escolha dos títulos se guia pelo gosto do editor, e não pela busca do best-seller, a editora sustenta-se com o número de lançamentos. Cito o próprio editor, Eduardo Lacerda, nesta entrevista a Theo G. Alves, sobre esta diretriz básica: "damos espaço para pessoas muitas vezes com poucos resultados financeiros, mas muitos resultados literários".
Nesse processo, ele aposta não só em muitos autores jovens da literatura brasileira, mas também em peste-sellers como eu. Ele não tem estrutura das grandes corporações para trabalhar os livros; ademais, a distribuição depende muito dos esforços pessoais dele e dos próprios autores. A melhor forma de encontrar as obras é o portal da editora: https://www.editorapatua.com.br/
Dito isso, é em casas com este perfil que respiram a renovação e a experimentação da literatura brasileira. Até membros da Academia Brasileira de Letras passaram a publicar pela Patuá, pois ela respeita os autores e a literatura. Temos um exemplo eloquente no atual presidente da Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi
A comemoração de aniversário ensejou esta promoção que vai até 12 de fevereiro:


Conheci Eduardo Lacerda muito antes, porém. Em 2003, eu estava tentando cursar as disciplinas do doutorado; tive a sorte de poder seguir dois ótimos cursos na FFLCH-USP e lá o conheci, graduando em Letras. Ele já editava: tenho ainda, dessa época, os dois primeiros números da Metamorfose: Revista de cultura e literatura Geral. No número 2, de 2004, ele contou com Andréa Catrópa, que era então mestranda em Letras. Anos depois, ela também publicaria pela Patuá.
No vídeo acima, li algumas das frases do editorial do primeiro número. Nele, Eduardo fala da metamorfose como "mediação" e de como espera poder "evoluir, crescer". Comentei que, nesses vinte anos, apesar de ter crescido a ponto de criar uma editora própria com centenas de títulos, não mudou em dois pontos essenciais: no amor pela literatura (especialmente a poesia) e nesta improvável aposta, em um país como o Brasil, de intervir no espaço público e no debate cultural por meio da edição de livros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário