I - Devorados com gosto
Vamos dirigir o país
Gritamos enquanto os que apoiamos
nos pisam
com nossos próprios pés;
(outros
brincam de governo
usando os nossos brinquedos)
Vamos expulsar do país
aqueles que não querem
que dirijamos o país
Gritamos com a voz
dos que nos calam
com nossos próprios tiros;
(a gente brincava de governo,
mas outros
governavam o brinquedo)
Ultimato ao país:
Terras vastas mostrem-se à altura
de serem dirigidas por nós
Bradamos do subterrâneo
onde fomos trancafiados
por aqueles a quem demos a chave do país;
(se o governo é um brinquedo,
onde é que ele quebra?)
Olhem que paralisamos o país
Anunciamos decididos
enquanto corremos da chibata
que fabricamos freneticamente,
o produto mais abundante desta terra;
(parece que o brinquedo veio com defeito,
mas que é assim mesmo
que se torna governo)
O produto mais abundante,
todos já têm
e todos o querem comprar.
II - O banquete, forma de governo
Nosso lifestyle? O caviar!
Como o governo quer apoio,
começa pagando o jantar;
muitos pratos, mas estou de olho
nos valores deste cardápio:
menos de milhão, não tem gosto,
cargos ou contratos, é sábio
verificar o percentual
antes de combinar nosso ágio,
que é o prato principal
dos que se alimentam do Estado,
o apetite do liberal,
um ministério devorado,
no entanto com talheres finos;
o orçamento serve de prato
e os códigos, de aperitivo;
comemos por causa do preço
e não do sabor purgativo
pois vomitando sem sossego
o banquete permanente
se torna forma de governo
apesar de eleições, somente
mantidas porque as campanhas
geram contratos e excedentes,
migalhas que o povo apanha
do chão e chama de direitos,
mas eram da mesa, e ele apanha
por roubar do jantar alheio,
por deixar a fome em apuros;
um brinde à fome, nosso feito,
e outro à ponte do futuro;
com cem por cento de propina,
nunca se ergueu, embora o muro
isolando a carnificina
lá fora do nosso banquete
ainda esteja sangue acima.
III - A autodevoração como lei universal
Reunião de literatos.
O que planejam?
Comemorar outro centenário.
– Literatos?
– Eles ganharam novo lugar no mundo escrevendo petições.
Reunião de literatos.
Mais um copo se quebra.
Estamos chegando a cem.
– Com mais uma petição virtual a favor das petições virtuais, viveremos em um mundo melhor. Ou mais eficaz, não lembro bem o que foi pedido.
Literatos discutem.
O que bebe mais acha-se superior
ao que bebe em demasia,
que retruca que prefere bebida barata
a vinhos de cem anos.
– Escrevi uma petição pelo fim das petições em razão da crise histórica desta forma, que substituiu os livros de colorir e as cartilhas para adultos, mas decaiu rapidamente. Hoje temos a nova salvação da literatura, o envio de nus.
O abstêmio descobre
que aquele manifesto fará cem anos
mas não agora
e sugere uma petição
para que o centenário seja emancipado
e salve a literatura contemporânea.
1. Temos a solução para o país. Os centenários.
2. Centenários levam a festas e comemorações, à alegria, que pode levar à dispensa de licitações, dependendo do valor ou da notória especialização.
3. Somos notoriamente especializados em nós mesmos, podemos ser contratados já, basta antecipar o centenário.
4. A alegria é o contrato dos nove milhões.
5. O centenário é uma forma estética e política muito usada nos grandes centros da literatura nobelizada e da política mundial.
6. Povos primitivos não comemoram centenários, é uma prova inconteste do atraso deles.
7. A antecipação dos centenários é uma medida que rejuvenescerá o país.
– O que eles estão fazendo? Estão escrevendo poemas em chibatas, paus-de-arara e em outros objetos seculares do país!
– Aproveitando a conjuntura política atual.
– Todos assinaram? Mas daqui a pouco voltam a brigar. Poetas só fazem manifestos de si mesmos.
IV – Dieta de justiça
Ligue o computador e leia:
se você é contra o corte
é contra o país
– Para onde iremos, se houver tantos cortes?
– Ame-o ou deixe-o, diziam os antigos. Não se preocupe. Com um só pé você ainda poderá andar.
Abra o jornal e leia:
se você é contra o corte
é contra o país
– Só os empregados perderam o emprego, explica o governo.
– Em compensação, o aluguel de aviões de paraísos fiscais mantém isenção fiscal.
– Mais um socioambientalista assassinado. Outras reservas precisam ser cortadas para evitar esse crime.
Bala perdida na rua.
Ela escreve nos corpos:
se você é contra o corte
é contra o país
– Descobriram estas ossadas anônimas, porém não tema, já são os cortes funcionando.
O que bebe mais acha-se superior
ao que bebe em demasia,
que retruca que prefere bebida barata
a vinhos de cem anos.
– Escrevi uma petição pelo fim das petições em razão da crise histórica desta forma, que substituiu os livros de colorir e as cartilhas para adultos, mas decaiu rapidamente. Hoje temos a nova salvação da literatura, o envio de nus.
O abstêmio descobre
que aquele manifesto fará cem anos
mas não agora
e sugere uma petição
para que o centenário seja emancipado
e salve a literatura contemporânea.
1. Temos a solução para o país. Os centenários.
2. Centenários levam a festas e comemorações, à alegria, que pode levar à dispensa de licitações, dependendo do valor ou da notória especialização.
3. Somos notoriamente especializados em nós mesmos, podemos ser contratados já, basta antecipar o centenário.
4. A alegria é o contrato dos nove milhões.
5. O centenário é uma forma estética e política muito usada nos grandes centros da literatura nobelizada e da política mundial.
6. Povos primitivos não comemoram centenários, é uma prova inconteste do atraso deles.
7. A antecipação dos centenários é uma medida que rejuvenescerá o país.
– O que eles estão fazendo? Estão escrevendo poemas em chibatas, paus-de-arara e em outros objetos seculares do país!
– Aproveitando a conjuntura política atual.
– Todos assinaram? Mas daqui a pouco voltam a brigar. Poetas só fazem manifestos de si mesmos.
IV – Dieta de justiça
Ligue o computador e leia:
se você é contra o corte
é contra o país
– Para onde iremos, se houver tantos cortes?
– Ame-o ou deixe-o, diziam os antigos. Não se preocupe. Com um só pé você ainda poderá andar.
Abra o jornal e leia:
se você é contra o corte
é contra o país
– Só os empregados perderam o emprego, explica o governo.
– Em compensação, o aluguel de aviões de paraísos fiscais mantém isenção fiscal.
– Mais um socioambientalista assassinado. Outras reservas precisam ser cortadas para evitar esse crime.
Bala perdida na rua.
Ela escreve nos corpos:
se você é contra o corte
é contra o país
– Descobriram estas ossadas anônimas, porém não tema, já são os cortes funcionando.
Bilhões encontrados em contas no exterior.
Os extratos secretos dizem:
se você é contra o corte
é contra o país
– O juiz almoçou com o governo e depois deu a liminar em favor do corte?
– Saudável sinal de que a Justiça entrou em dieta.
Prêmio literário para obras intituladas
se você é contra o corte
é contra o país
o primeiro lugar cortou tudo, menos o título
– Mas há alguma diferença entre o corte e o país?
– Poderíamos ter pesquisado a questão, antes de as melhores universidades terem sido cortadas. Agora o relator dos cortes da educação, o deputado representante da Educational Systems, está propondo um programa inédito no mundo de alfabetização de doutores. Quem sabe eles poderão, depois disso, empreender pesquisas.
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é contra o país
o primeiro lugar cortou tudo, menos o título
– Mas há alguma diferença entre o corte e o país?
– Poderíamos ter pesquisado a questão, antes de as melhores universidades terem sido cortadas. Agora o relator dos cortes da educação, o deputado representante da Educational Systems, está propondo um programa inédito no mundo de alfabetização de doutores. Quem sabe eles poderão, depois disso, empreender pesquisas.
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(os cortes refundaram seu império:
turbinas sangram seca em nossos rios, devoram nossas terras com desterro;
mas chamam progresso ao prejuízo,
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