O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras e instauram a desordem entre os dois campos.
Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem"; próximas, sempre.

domingo, 28 de outubro de 2018

A chibata demanda o seu voto

Não é machista
só empurra mulheres de esquerda
ou jornalistas
e outras
que não temos tempo de listar agora

Não mata ninguém
seria um desperdício
deixa que os admiradores
votem nele
com a faca na garganta alheia

Ama as liberdades
dos coturnos
das transferências bancárias não contabilizadas
da censura
e basta
pois liberdade só para os livres

Grande educador
ensina às mulheres a anatomia do útero
sob pés masculinos
explica à bolsa o tempo certo dos valores
entre o disparo e a putrefação
nas valas clandestinas
e mais não diz
poderia ser mal interpretado
e toda interpretação foi interditada

Traz notícias ao mundo
não como o intestino produz as fezes
pois elas se libertam do corpo
tornam-se rebentos
e gritam
não como o câncer informa a carne
mas como ele substitui o corpo
toma sua forma e anda pelas ruas
integralmente compartilhável

Orador que adestrou a língua
a reproduzir o estalo da chibata
embora todas as peles possam entendê-la
agora ela não tem muito mais a dizer


... dinheiro lavado em sangue
de corpos insubmissos...

... preces a treinar a mira
em peles escuras...

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