O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras e instauram a desordem entre os dois campos.
Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem"; próximas, sempre.

sábado, 7 de setembro de 2019

Homofobia, porta de entrada do fascismo e exemplos de literatura para ser censurada no Rio de Janeiro

Como todos devem lembrar, a pusilanimidade e a falta de espírito público típicas da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro impediram que o sobrinho de Edir Macedo fosse impedido no cargo de prefeito daquele município. Encorajado pela decisão do Legislativo municipal, ele cometeu novo crime de responsabilidade, tentando localmente ressuscitar a censura (que era um órgão federal antes da Constituição de 1988, que a extinguiu) por causa de um gibi com um beijo entre dois rapazes em uma feira do livro.
Os vereadores Renato Cinco e Tarcísio Motta já protocolaram representação no Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro em razão de "improbidade administrativa, censura prévia, violação da liberdade de expressão e do princípio de não discriminação".
Observando as discussões recentes sobre censura, inclusive o ultraje pela que os vereadores de Porto Alegre fizeram contra charges neste mês, resolvi oferecer, nesta nota, alguns de meus livros para a leitura dos cariocas que não queiram conformar seus hábitos de leitura e sua higiene mental ao índice de livros proibidos da improbidade administrativa de inspiração cristã.
No caso de Porto Alegre, a censura política deveu-se à crítica ao governo federal feita por alguns dos artistas. Na cidade governada por um bispo, houve homofobia que é, segundo julgo, uma porta de entrada para o fascismo. O discurso de ódio contra homossexuais serve, assim como a transfobia, para que políticos autoritários vençam eleições e para que, em um momento seguinte, quem sabe, possam dispensar os pleitos e a escolha popular.
Lembrem-se do fantasma do "kit gay", que serviu para eleger a extrema-direita em 2018. A ideia de um "kit" desse tipo era absurda, ainda mais porque ele nunca foi visto em escola alguma. No entanto, muitos nele acreditaram porque, em nome do preconceito, o absurdo não só cria raízes como, em uma fase posterior, serve para demolir e incendiar florestas.
Ofereço, portanto, alguns de meus livros, que seriam proibidos pelo exorcista de plantão no Rio de Janeiro. Se a alguém interessar o gênero ensaístico, tenho o Para que servem os direitos humanos?, especialmente a passagem na página 13, que chamou a atenção de Eduardo Pitta em Portugal. Como sempre, se alguém quiser ler, basta clicar sobre a imagem e abrir a ligação em outra janela:







Se alguém tiver interesse em prosa de ficção, um exemplo é minha narradora lésbica deste conto de Cidadania da bomba:








Meu último livro de poesia, Canção de ninar com fuzis, tem alguns exemplos, como este, que trata de identidades, movimentos e da violência transfóbica:









No final de um poema, temos a fala de minha heroína trans de Cinco lugares da fúria:







Do livro de poesia O palco e o mundo, este entrelaçamento de gêneros e orientações:





Do livro de poesia Código negro, posso escolher este poema (porém este livro serve inteiro para ser censurado...);








Que os livros continuem servindo de muralhas contra o fascismo.

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