Faz parte da catástrofe explícita que está no poder, situação em que o ocupante da presidência da república anuncia abertamente que estimulou o crime ambiental e a destruição da Amazônia ("Bolsonaro diz que 'potencializou' queimadas por nova política para Amazônia"), que o imaginário e os instrumentos da ditadura seja a todo o tempo convocados para a legitimação da plutocracia tornada em escatocracia (proponho esta palavra agora, pensando em escatologia).
Faz parte da catástrofe no poder o ataque à pesquisa e à universidade - outra floresta que a escatocracia que tomou o poder deseja ver reduzida a cinzas.
Fiz uma pesquisa de pós-doutorado no Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas sob a supervisão de Eduardo Sterzi sobre justiça de transição e literatura brasileira contemporânea. Por essa razão, participarei do I Seminário dos Pesquisadores de Pós-Doutorado em Teoria e História Literária do IEL-Unicamp, que ocorrerá em 11 e 12 de novembro de 2019. Vejam a programação:
Um dos resultados da minha pesquisa foi este artigo publicado pela revista Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, "Poéticas da migrância e ditadura: exílio e diáspora nas obras de Julián Fuks e Francisco Maciel". Transcrevo o resumo:
O artigo trata da questão dos exílios e das migrações, em relação à ditadura militar, em dois autores da literatura brasileira contemporânea: Julián Fuks e Francisco Maciel. O romance A resistência (Fuks, 2015) é analisado segundo os conceitos de pós-memória (Hirsch, 2008) e privatização do trauma (Seligmann-Silva, 2014). Este romance, em sua tentativa de construir a memória da família relacionada ao exílio de pais argentinos e à adoção de um filho, retrata, nas dificuldades formais de escrever o livro, os problemas políticos do processo de justiça de transição no Brasil, em comparação com a Argentina. Na obra de Francisco Maciel, a discriminação racial contra a população negra é um tema central. A repressão política considerava que o movimento negro representava ameaça contra a segurança nacional. O artigo analisa a questão das migrações dos negros na obra de Maciel em termos de diáspora (Hall, 2003), e explica como ela não se torna apenas tema, mas também forma literária, no romance Não adianta morrer (Maciel, 2018).Interessaram-me as articulações entre a forma literária e o processo de transição política no Brasil, bem como as continuidades do imaginário autoritário, que agora assumiram o poder. Pretendo tratar ao menos desses autores e de Micheliny Verunschk no dia 11 de novembro. Espero ver como estarão o país e a progressão da catástrofe até lá; fato é que a situação não poderá ser sustentada nos atuais termos; precisa mudar para manter-se, ou então será erradicada.
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