A Mãe da Praça de Maio Hebe de Bonafini, que morreu em 20 de novembro de 2022 com 93 anos, sobreviveu a seus três filhos, que a última ditadura na Argentina lhe tirou, mas também a companheiras como Azucena Villaflor de Vicenti, sequestrada e morta pela repressão em 1977.
Ela esteve no Brasil algumas vezes, antes e depois do fim das ditaduras na Argentina e no Brasil. Este documento das Mães da Praça de Maio está no acervo da polícia política de São Paulo, o DEOPS/SP, atualmente no Arquivo Público do Estado de São Paulo. Nele vemos a assinatura de Hebe de Bonafini, no quarto ano da organização. Ele seria lido em São Paulo na comemoração do Primeiro de Maio de 1981:
No Brasil, estávamos no fim prolongado fim da ditadura militar, sob o General Figueiredo. O fim das gestões encabeçadas por militares não significou, contudo, que o Estado brasileiro tivesse terminado de vigiar os movimentos sociais. Esta continuidade da ditadura lembra-nos que, afinal, um governo como o de Jair Bolsonaro não foi gestado somente desde 2014.
Data do curto governo Collor este outro documento. Entre 21 e 23 de junho de 1991, aconteceu em São Paulo o III Encontro Latino-Americano e do Caribe pela Solidariedade, Soberania, Autodeterminação e Vida de Nossos Povos. Bonafini representou as Mães da Praça de Maio. Em documento confidencial da Secretaria de Assuntos Especiais da Presidência, hoje no acervo do Arquivo Nacional, temos um relatório do Encontro com o que me pareceu ser uma cópia traduzida do discurso dela. Como sempre, cliquem sobre a imagem para ampliá-la:
Estamos numa batalha muito pura, esta batalha significa resistir e combater. Se não formos capazes de enfrentar estes 500 anos com muita força, repudiando e protestando todos os massacres, dos negros e dos índios e aos que eles chamaram de subversivos e terroristas, que com a mesma força que assassinaram os negros e os índios, assassinaram nossos filhos acusando-os de terroristas.Os homens dessa terra, os que querem um mundo melhor, estamos aqui e em todos os lugares para dizer-lhes, 500 anos de nepotismo vamos enfrentar com força.
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