I
Metano bovino na cabeça,
Jesus na conta do banco,
um soldador na mão
e ele se convenceu:
seria presidente de novo.
O latifúndio colhera
metano bovino no banco,
Jesus ligado na tomada
eletrocutara a democracia,
o soldador na cabeça
incendiara as ideias
e ele se convenceu:
era presidente de novo.
Sua tornozeleira chutaria longe
as cabeças cortadas da democracia
se conseguisse levantar as pernas
sem o metano ter enxaqueca.
"Nunca deixei de ser presidente,
a lama continua sendo curral."
Acordou para a troca de fralda.
II
A tornozeleira eletrônica
e o eletroencefalograma da fuga.
De madrugada, ele queria escapulir.
De manhã, pela madrugada ele só teve curiosidade.
No dia seguinte, ele ontem ouviu vozes.
Dois dias depois, na antevéspera se medicara.
Forma branda de alienação,
vozes na tornozeleira sussurraram
que ainda era presidente.
Quatro anos antes,
espécie genocida de alienação,
milhões de sussurros gritaram
que ele era presidente.
Agora
liberais rugem
projetos de anistia premonitória
para crimes de lesa-humanidade
porque ensurdeceram
e o único ruído que recordam
são os arrotos
de que ele voltará a ser presidente.
III
Cascas de camarão entupindo
tumores intestinais, esposa e filhos
competindo pela diverticulite
institucional, a inflamação do país
ou o regime da política
disputando a digestão do atraso.
Nada disso mais o tocava.
Dentro da cela,
finalmente estava cercado
apenas de si mesmo.
