Algo como um poema, que fiz para o poeta argentino Julián Axat, sobre quem escrevi na primeira postagem deste blogue. O título disto é um dos versos do poema dele que lá traduzi.
Dentes com metacarpos
Para Julián
Meu amigo para diante do abismo,
procura os pais desaparecidos;
o que encontrará, não sabemos,
o quanto suas mãos mergulharão
na matéria viscosa do nada, ignoramos,
que tipo de nada, porém humano,
dele retirarão, resta saber,
embora imaginemos
que no fundo do abismo
outro se abra
e depois outro
indefinidamente.
Vejo que meu amigo murmura,
mas não comigo;
fala com suas mãos,
ensina-lhes que o abismo é uma terra
sobre a qual pisamos
todos os dias
e que pode ser escavado
da mesma forma que o tutano
dentro dos ossos.
Ele sussurra para as mãos
No mundo inteiro
quase só há desabrigo,
todos os refúgios da humanidade
compõem-se principalmente do abismo.
Os felizes que nele caem
parecem crer
que nada há mais profundo
do que o humano
e que os homens
desde sempre
foram filhos da queda.
Suas próprias mãos não acreditam nele.
Meu amigo salta para o abismo;
grito, mas a queda não ocorre,
retém-no na superfície
a superfície do nada.
O palco e o mundo
Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras. Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem".
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