Gostei deste obituário escrito por Luiz Sérgio Henriques: http://correiodobrasil.com.br/carlos-nelson-coutinho-1943-2012/518354/#.UFv2m1HpiSo Ele conta da militância do autor no PCB, do exílio, dos livros, até aderir ao PSOL, depois de ter criticado o PT. Já Maurício Caleiro destacou uma conferência e uma entrevista do autor, que também indico: http://cinemaeoutrasartes.blogspot.com.br/2009/04/carlos-nelson-coutinho-na-globo-news.html
Porém, para quem ainda não o leu, talvez seja mais interessante começar pela entrevista que concedeu, em 2009, à revista Caros Amigos, que está disponível na internet:
http://carosamigos.terra.com.br/index/index.php/politica/2513-carlos-nelson-coutinho-leia-entrevista-na-integra
Chamo a atenção para a resposta sobre famoso trabalho de 1979, "A democracia como valor universal". Ele diz que deveria alterar para "democratização como valor universal", pois a democracia seria, antes de tudo, um processo de "plena socialização do poder político", sem se identificar com as instituições que historicamente assume. Essa plena socialização só poderia ocorrer no socialismo, pois, na sociedade de classes, a igualdade formal é sempre limitada pelas desigualdades materiais. Conclui Coutinho: "Então, eu diria que sem democracia não há socialismo, e sem socialismo não há democracia."
Aquele artigo causou grande impacto quando surgiu, pois boa parte da esquerda não era democrática (ou pregava o "centralismo democrático"...) e espantou-se com o elogio a certas liberdades que muitos viam como meramente "burguesas".
Esse artigo também está disponível na internet:
http://www.danielherz.com.br/system/files/acervo/ADELMO/Artigos/A%2BDemocracia%2Bcomo%2BValor%2BUniversal.pdf
Eu o citei em um trabalho que ainda tenho que rescrever, tendo em vista os documentos que encontrei depois, sobre o pensamento político da VAR-Palmares - grupo clandestino de esquerda responsável, entre outros feitos, pelo roubo do cofre de Ademar de Barros, e que se fracionou (destino de todos esses grupos) e acabou sendo destruído pela repressão política no início dos anos 1970. Dele fizeram parte Iara Iavelberg (http://www.torturanuncamais-rj.org.br/MDDetalhes.asp?CodMortosDesaparecidos=80), Lamarca (estes dois, por um breve período) e também Dilma Rousseff.
Nos interessantes documentos da Vanguarda Armada Revolucionária, não havia essa perspectiva da democratização como valor universal - mas tampouco nos de outros grupos, pelo que estudei até agora. Tratava-se de um problema teórico e político da época, como explicou Carlos Nelson Coutinho. Gramsci poderia ter ajudado a pensar na relação entre socialismo e democracia, porém ainda era pouquíssimo conhecido no Brasil. No meu esboço de artigo, ainda inédito, há esta passagem que cito agora:
No âmbito do pensamento marxista brasileiro, já no governo do General Figueiredo, Carlos Nelson Coutinho o fez, ao apontar em 1979 a necessidade de organização dos sujeitos coletivos de base, com respeito a sua autonomia e diversidade e a incorporação das massas ao sistema político, repensando o legado teórico de Marx e Engels.[i]Coutinho defendeu que o pensamento de Gramsci poderia ser utilizado para a reavaliação da democracia e do socialismo no Brasil; porém, o grande pensador italiano não era realmente conhecido no Brasil antes da década de sessenta, e a fraqueza teórica do marxismo brasileiro fazia com que os manuais stalinistas, até aquela década, fossem a principal fonte teórica.[ii]
[i] COUTINHO, Carlos Nelson. “A democracia como valor universal”, In: LÖWY, Michael (org.), O marxismo na América Latina: uma antologia de 1909 aos dias atuais, 2ª. ed., São Paulo: Fundação Perseu Abramo, p. 447-454, 2006.
[ii] COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci: um estudo sobre seu pensamento político, 3ª. ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 281-282.
Como ele escreveu já em 1979, a democracia não deve ser vista como algo com valor meramente tático, instrumental, pelos socialistas: "Essa visão estreita se baseia, antes de mais nada, numa errada concepção da teoria marxista do Estado, numa falsa e mecânica identificação entre democracia política e dominação burguesa." (p. 34) No artigo, Carlos Nelson Coutinho defende a necessidade de articulação entre a democracia representativa e a democracia direita, afirmando que essa ideia "já faz parte do patrimônio teórico do marxismo" (p. 38).
Ele foi, devemos reconhecer, um dos autores que enriqueceu esse patrimônio.
Ele foi, devemos reconhecer, um dos autores que enriqueceu esse patrimônio.
A Ministra Cármen Lúcia, conservadora nata na estirpe mineira do conservadorismo, mas lúcida e sensível, resumiu hoje, salvo engano, na sessão da tarde do julgamento do mensalão, o desencanto com a democracia representativa: "A política é necessária; ou é a política ou a guerra", em livre adaptação, por não ter ouvido o que ela disse, mas lido em Veja. Esse desencanto contudo, não leva em conta, exatamente, a possibilidade dessa articulação, entre a democracia direta e a representativa. Por essa última ser sempre passível de rápido esgotamento, assim que alguma esperança partidária surge no cenário da representação, a democracia direta é um dos poucos oxigênios disponíveis. Ou ela, ou a guerra. Abr, Adriana
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