Nos idos de 2002, creio, eu havia publicado esta vinhetinha no zine Nasdaq, que era editado por Eduardo Sterzi e Tarso de Melo.
VERONICA
– Não entendo; a
sua história acabou?
– Hoje
está um dia quente.
– Mas
ninguém casou na história!
– Sabe,
eu nunca quis me casar.
– Como
ninguém casou no fim da história, ela não terminou.
– Acho a
castidade uma virtude, contanto que ela não seja praticada.
– Mas é
claro que ela poderia ter acabado se alguém tivesse morrido.
– A
eternidade também é uma virtude se não for praticada.
– Uma
história acaba ou com um casamento ou com morte. Se os dois ocorrem, nem o
leitor pode continuar.
– Com um
infarto fulminante, o final ficaria abrupto. Com uma doença degenerativa,
longo… Mas não: o melhor é escrever abruptamente uma prolongada agonia e muito
lentamente um fim súbito. Provaria que vida e escrita são opostas.
– Uma
história em que alguém se casasse com um morto acabaria com todas as histórias.
– Mas
morte e escrita são opostas?
– Por
isso não entendo. A história não terminou.
– Quer
casar comigo?
– Eu não
gosto de sopa.
– Também
não. Quer casar comigo?
– Acho
que não. O dia está muito quente.
– É
mesmo.
E então o
matou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário