Algo como um poema, de um eventual próximo livro:
Indagações do professor de ciência política
em que
país há democracia perfeita? digam,
sei lá se
a polícia aqui mata mais
do que em
todo o continente, não estudo geografia
em que
país há estatísticas perfeitas? respondam,
é
irrelevante que tribunais entrem em plantão
para
atender às metas de produtividade da polícia,
não faço
pesquisa quantitativa
em que país
a melanina é uma cidade? vocês não sabem,
temos que
armar melhor a polícia,
é um
problema de tecnologia
se as balas
preferem alvos mais escuros;
parem de
falar de periferias, não sou urbanista
em que
país há pontaria perfeita? expliquem,
ativistas
de cemitério, que perturbam
a paz
acordada
entre a
mira incerta dos agentes públicos
e a
segurança da propriedade privada;
também
não estudo balística,
não sei
que relação ela teria com a política
em que país
há memória perfeita? calem-se,
fanáticos
da justiça, que desejam punição
para
massacres de anteontem,
se posso
avistá-los daqui
é porque em
cima da pilha de ossos
estou à
altura de uma observação objetiva da sociedade:
não
estudo a relação entre a federação de indústrias e o cassetete,
entre a
confederação agropecuária e as covas anônimas,
entre
campanhas eleitorais e as notas frias,
e sim entre
a ciência política e a bolsa de pesquisa
que pedi
e ainda não foi deferida.
P.S.: O poema foi publicado em Canção de ninar com fuzis.
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