A Comissão, presidida por Adriano Diogo, e coordenada inicialmente por Ivan Seixas e, posteriormente, por Amelinha Teles, existiu de 2012 a 2015 e seu último dia de funcionamento foi um 13 de março, sexta-feira. Trabalhei nela como pesquisador em 2014 e 2015.
Os grandes jornais diários de São Paulo ignoraram a entrega do relatório final (já a Carta Capital publicou-o quase integralmente), muito ocupados em convocar as pessoas para os atos do 15 de março de 2015, que pediam a derrubada da presidenta Dilma Rousseff.
Neste ano, o seminário novamente está a dois dias de manifestações antidemocráticas, desta vez convocadas pelo atual ocupante da presidência da república. Depois de negar tê-lo feito, apesar do vazamento do vídeo de propaganda dos atos de 15 de março em prol do fechamento do Congresso Nacional que enviou por mensagem, ele o assumiu chantageando os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal a abrirem mão de 15 bilhões do orçamento para que os atos não ocorram: "Bolsonaro: 'Se Congresso abrir mão de R$ 15 bi, pode não ter ato'".
Trata-se de mais um crime de responsabilidade, espécie que prolifera como método de gestão, na ausência de instituições que façam freio ao Executivo.
Continuamos a pagar caro a falta de justiça de transição no Brasil, com a impunidade dos agentes da repressão da ditadura e a falta das reformas institucionais que tornassem o Estado brasileiro realmente democrático. O trabalho da Comissão "Rubens Paiva" foi completamente orientado para essas medidas de justiça ligadas à transição política, e que foram esquecidas depois do golpe de 2016, e soterradas pelo atual presidência, que se lançou nacionalmente elogiando o quadro número 1 das torturas e das execuções extrajudiciais da ditadura.
Novamente o pessoal da Comissão apresenta seu trabalho às vésperas de atos antidemocráticos.
Falarei, na primeira mesa, do relatório. Ele teve quatro tomos: o primeiro, com 26 capítulos, divide-se em quatro partes:
PARTE I: ESTRUTURAS E SISTEMAS DA REPRESSÃO
CADEIAS DE COMANDO: A FORMAÇÃO DA ESTRUTURA NACIONAL DE REPRESSÃO POLÍTICA
REPRESSÃO POLÍTICA: ORIGENS E CONSEQUÊNCIAS DO ESQUADRÃO DA MORTE
MÉTODOS E TÉCNICAS DE OCULTAÇÃO DE CORPOS NA CIDADE DE SÃO PAULO
A FORMAÇÃO DO GRUPO DE ANTROPOLOGIA FORENSE PARA IDENTIFICAÇÃO DAS OSSADAS DA VALA DE PERUS
O “BAGULHÃO”, A VOZ DOS PRESOS POLÍTICOS CONTRA A DITADURA
A PERSEGUIÇÃO AOS MILITARES QUE RESISTIRAM À DITADURA
A MILITARIZAÇÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA
O FINANCIAMENTO DA REPRESSÃO
CONEXÕES INTERNACIONAIS NA DITADURA: OPERAÇÃO CONDOR E O GENERAL PAUL AUSSARESSES
O LEGADO DA DITADURA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
PARTE II: GRUPOS SOCIAIS E MOVIMENTOS PERSEGUIDOS OU ATINGIDOS PELA DITADURA
PERSEGUIÇÃO À POPULAÇÃO E AO MOVIMENTO NEGROS
VIOLAÇÕES AOS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS
VERDADE E GÊNERO
INFÂNCIA ROUBADA
A PERSEGUIÇÃO AOS TRABALHADORES E AO MOVIMENTO OPERÁRIO
A PERSEGUIÇÃO AO MOVIMENTO ESTUDANTIL PAULISTA
DITADURA E HOMOSSEXUALIDADES: INICIATIVAS DA COMISSÃO DA VERDADE DO ESTADO DE SÃO PAULO RUBENS PAIVA
DITADURA E SAÚDE MENTAL
PARTE III: AÇÕES DE RESISTÊNCIA E MEDIDAS DE JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO
A SENTENÇA DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS NO CASO GOMES LUND E OUTROS VS. BRASIL
A ATUAÇÃO DOS ADVOGADOS NA DEFESA DOS PRESOS POLÍTICOS
AS AÇÕES JUDICIAIS DAS FAMÍLIAS TELES E MERLINO
IMPRENSA DE RESISTÊNCIA À DITADURA
LEMBRAR OS 50 ANOS DO GOLPE MILITAR, LEMBRAR SUAS VÍTIMAS, LEMBRAR A RESISTÊNCIA, CONSTRUIR A VERDADE E ALCANÇAR A JUSTIÇA!
CONTRIBUIÇÕES DA COMISSÃO DA VERDADE PARA O TRABALHO DE MEMÓRIA E DE JUSTIÇA
PARTE IV: ARQUIVOS E MEMÓRIAAlguns dos temas foram tratados apenas por esta Comissão. Certos deles entraram no relatório da Comissão Nacional da Verdade, apesar da resistência de alguns dos comissionados, com a ajuda da pressão política da Comissão "Rubens Paiva", que realizou audiências públicas sobre tais assuntos delicados, como Verdade e Gênero, Ditadura e Homossexualidades e Violações aos direitos do Povos Indígenas.
LUGARES DE MEMÓRIA, ARQUEOLOGIA DA REPRESSÃO E DA RESISTÊNCIA E LOCAIS DE TORTURA
ALESP NA DITADURA
O tomo II corresponde a uma atualização do trabalho feito pela Comissão dos Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos (refiro-me à organização da sociedade civil, e não ao órgão do Estado) sobre esses que foram vítimas de crimes contra a humanidade pela ditadura militar. O trabalho dos Familiares foi base também para o relatório da CNV.
O tomo III, com milhares de páginas, traz o texto das audiências públicas da Comissão "Rubens Paiva" (desde o início, a Comissão realizou audiências abertas, o que acabou levando a CNV a abrir algumas das suas) que foram transcritas. Infelizmente, nem todas o foram, especialmente as que ocorreram fora da Assembleia Legislativa.
O tomo IV reúne contribuições de grupos de pesquisadores externos à Comissão: Os casos de tortura e morte de imigrantes japoneses em 1946 e 1947; o relatório do Grupo de Trabalho JK sobre o assassinato de Juscelino Kubitschek pela ditadura (um tema que a CNV não quis pesquisar); o relatório sobre repressão no campo no Estado de São Paulo.
A Comissão publicou três livros: Infância roubada, sobre as crianças atingidas pela ditadura (torturadas, banidas, presas), "Bagulhão": a voz dos presos políticos contra os torturadores, A condenação do Estado brasileiro no caso Araguaia pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, além de ter republicado o Dossiê ditadura: mortos e desaparecidos políticos no Brasil (1964-1985).
O canal no youtube da Comissão "Rubens Paiva" reúne videobiografias de mortos e desaparecidos políticos e audiências públicas; também constitui uma importante fonte de informações contra as mentiras do autoritarismo, cada vez mais invocadas e disseminadas pela administração federal e pelas facções que a apoiam: https://www.youtube.com/channel/UC_9KpoQhSLFwWuE1TV1_CVQ.
Novamente os trabalhos da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo são oferecidos a público para inspirar e instigar as lutas democráticas. Eis a programação:
SEMINÁRIO Comissão da Verdade do Estado de São Paulo "Rubens Paiva", 5 anos depois | TERRORISMO DE ESTADO: DA DITADURA AO DESGOVERNO ATUAL*
Sexta-feira, 13 de Março de 2020 | Das 9h às 21h
Centro Universitário Maria Antonia
Rua. Maria Antônia, 258 - Centro, São Paulo
*Programação completa*
9:00 - 9:30 Abertura Performance a partir do caso de Ana Rosa Kucinski.
Fernanda Azevedo (Cia Kiwi de Teatro)
9:30 - 10:50 Apresentação do trabalho da Comissão e de seu relatório
Adriano Diogo, Amelinha Teles, Pádua Fernandes e Vivian Mendes
11:00 - 12:20 Mesa 1 - Mortos de Desaparecidos: A luta hoje por Memória, Verdade e Justiça
_Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos_
Vera Paiva (filha de Rubens Paiva) membro da comissão
_Grupo de Trabalho das Ossadas de Perus do CAAF-Unifesp_
Edson Teles apresenta a situação atual do trabalho
_Comissões da Verdade das Universidades_
Rosalina Santa Cruz apresenta caso inédito de desaparecido da PUC-SP
_A participação da sociedade civil na Comissão da Verdade_
Suzana Lisboa, Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos
Eduardo Valério, Promotor de Direitos Humanos do Ministério Público de São Paulo
Rafael Oliveira, Defensoria Pública do Estado de São Paulo
12:30 - 14:00 Almoço
Concerto do Octeto da Osusp
14:00 - 15:30 Mesa 2 - Graves violações de Direitos Humanos
Depoimento do _maestro Martinho Lutero_ sobre a participação do coro Luther King nas iniciativas da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo "Rubens Paiva"
Marlon Weichert, Procurador Regional da República -MPF
Eugênio Aragão, Procurador da República, e ex-ministro da Justiça (videoconferência)
O Caso Juscelino Kubitschek e a Comissão da Verdade SP "Rubens Paiva" apresentado por Alessandro Octaviani, Prof. da Faculdade de Direito da USP
15:30 -18:00 Mesa 3 - Genocídio e tortura ontem e hoje
_Papel dos empresários na Repressão aos Trabalhadores_
Sebastião Neto e Rosa Cardoso
_Mecanismo Estadual de Combate à Tortura - Protocolo de Istambul_
Carolina Toledo Diniz, Consultora da Conectas
Mateus Oliveira Moro, Defensor Público do Estado de São Paulo, Coordenador do Núcleo Especializado de Situação Carcerária
_Comissão da Verdade da Escravidão_
Caso Chaguinhas/Liberdade - tortura e execução histórica - Sítio dos Aflitos
Prof. Silvio Luiz Sant'Anna, UNAMCA
Paula Nishida, DPH/Secretaria da Cultura
Paula Vermeersch, historiadora da Unesp
_Os genocídios da Democracia_
Participação de Solange Oliveira das Mães da Zona Leste
_Comissão Camponesa da Verdade_
Clifford Welch e Gabriel da Silva Teixeira, pesquisadores da Comissão da Verdade SP- Rubens Paiva
18:00 - 18:45 - lanche
18:50 - Apresentação de trecho da peça
Ato Institucional nº5 (AI-5) No passado e no presente.
Leitura de texto em homenagem à Iara Iavelberg, por Natália Siufi - grupo Xingó
19:00 - 21:00 Ato final - Manifesto Terrorismo de Estado: Da Ditadura ao Desgoverno Atual
Homenagem a Rafael Martinelli e Ieda Akselrud de Seixas
Leitura do Manifesto
Debate sobre o desgoverno com:
Adriano Diogo, Amelinha Teles, Eleonora Menicucci, Eliana Vendramini, Luiza Erundina, Maria Auxiliadora Arantes (Dodora) e Rosa Cardoso
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