O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras. Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem".

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Voos novos de Nuno

Escrevi há poucos anos um ensaio sobre a literatura de Nuno Ramos até O pão do corvo. Talvez neste ano saia um livro coletivo com um capítulo que escrevi sobre seu livro de 2010, O mau vidraceiro.
Nuno Ramos é muito mais conhecido no Brasil do que no exterior, porém recente reportagem da revista The Economist certamente ajudará a projeção de sua obra.
Podemos reler nela a história dos urubus de "Bandeira branca", episódio em que Nuno Ramos foi intensa e injustamente atacado.
Felizmente, a matéria, "Ballad for a culture vulture" foi além disso, cumprindo a promessa do subtítulo: "A Brazilian artist and poet with a taste for obstinate materials and ideas". Decerto um poeta e artista.
Gostei de que mencionassem seu trabalho literário e de que Nuno Ramos caracterizasse o seu grande livro Ó como um tipo de poesia porque é "sobre nada". Sempre achei que o trabalho literário dele, tão híbrido, aproximava-se desse gênero.
Para mencionar apenas os dois livros sobre que ainda não publiquei, os interlúdios líricos de Ó são poesia, e vários textos de O mau vidraceiro pertencem à tradição do poema em prosa - à qual Nuno Ramos alude no título, que vem de um célebre exemplar do gênero escrito por Baudelaire.
Ademais, Nuno Ramos inclui nesse último livro, marotamente chamando-a de "Título", uma tradução de grande trecho desse poema de Baudelaire.
É claro que essa tradição sofre o mesmo que os vidros do vidraceiro do poeta francês: ela é estilhaçada - e, assim, o "lado belo da vida" é revelado no bairro pobre.
A brasilidade complexa, nem um pouco óbvia do trabalho de Nuno Ramos é referida na matéria da revista (Jacopo Crivelli Visconti compara-o a uma quarta-feira de cinzas), que também dá a ótima notícia, que eu não havia lido antes, de que em maio teremos livro novo de Nuno Ramos (de poesia), a ser publicado pela Iluminuras.
Note-se que a revista The Economist, para certos assuntos uma fonte segura de informação, pensa que o idioma falado no Brasil é o espanhol: "Instituto Brasileno del Medio Ambiente". A Carta Capital, que reproduz conteúdo dessa revista, poderia avisar o periódico irlandês, perdão, inglês.

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