O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras e instauram a desordem entre os dois campos.
Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem"; próximas, sempre.

domingo, 24 de outubro de 2010

Daniel Murray e o violão de Tom Jobim


Não me lembro mais como descobri o primeiro disco do grande violonista brasileiro Daniel Murray (ao lado, em foto de Fabio Weintraub), ...universos sonoros para violão e tape... (http://www.universossonoros.kit.net/). Talvez tenha sido indicação de Silvio Ferraz, que é um dos compositores nele incluídos. Encomendei-o e fiquei muito impressionado com o repertório e a interpretação - um violonista qualquer não teria nem mesmo a ideia de escolher ou de encomendar aqueles obras, muito menos a técnica para tocá-las.
Esse disco revela o imenso erro de as discussões sobre arte no Brasil passarem ao largo da música erudita contemporânea, que se mantém vital.
Lembro de uma reportagem do início da década em que certo compositor reclamava de que, no passado, a elite brasileira ao menos convidava os compositores eruditos para as festas - hoje, nem isso! Mas uma arte que resolva viver para os canapés não tem mesmo como ir além do nível nutricional de arroz de festa.
Evidentemente, não é o caso das composições escolhidas por Daniel Murray, incluindo a do grego Panayiotis Kokoras e a do francês Mikhail Malt.
Soube - o violonista revelou-o em um concerto - que estava a gravar Tom Jobim. Quando o editor da Capitu me convidou para escrever na revista, tive a ideia de começar com esse disco (que ainda não foi lançado, mas a ideia é antecipar essas coisas, falar do que está sendo concebido e gerado). Procurei-o e ele gentilmente concordou em falar comigo. Descobri que o disco já está gravado, é, de fato, ótimo e está para sair.
O texto, com declarações de Murray, pode ser lido nesta ligação:

http://www.revistacapitu.com/capitu/materia.asp?codigo=268


O editor não incluiu um parágrafo, que anunciava um espetáculo que ocorreu no dia anterior à matéria entrar no ar. Incluo-o aqui:
Finalmente, este ano tive vontade de juntar em um único experimento a Música Eletroacústica e Música Instrumental Brasileira. Faremos uma apresentação no Centro Cultural São Paulo dia 23 [outubro de 2010] às 20 horas unindo o trabalho instrumental que tenho junto ao violonista e compositor Chico Saraiva, o Duo Saraiva-Murray com a música eletroacústica do Trio Universos, com a flautista Giuliana Audra e o compositor e violonista Sérgio Kafejian. Também faço parte do Quarteto TAU de violões junto a Fabio Bartoloni, Breno Chaves e José Henrique de Campos e estamos incluindo em nosso repertório estreias de obras eruditas contemporâneas junto a alguns arranjos que fiz de música popular brasileira.


Eu vi o concerto a que ele se refere. Murray também tocou, sozinho, duas canções do disco novo, em arranjos dele mesmo, "Eu te amo" (que ficou prodigiosa) e "Valsa sentimental". No fim, ouviu-se algo como uma jam session eletroacústica. Somente músicos muito talentosos poderiam ter logrado essa mistura (para quem não conhece, a música de Chico Saraiva tem uma linguagem bem brasileira).

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