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A coleção tem seu nome inspirado, obviamente, em Bolaño. Mas não quero lembrar do livro de que o título foi retirado, e sim de 2666. Na página 262 da tradução brasileira (feita por Eduardo Brandão), lemos uma observação sobre o caráter social da memória. Comparam-se os milhares de mortos da Comuna de Paris com o caso de um amolador de facas que assassinou suas próprias esposa e mãe. A segunda notícia foi transmitida por vários jornais da Europa e também em Nova Iorque. Os mortos da Comuna não despertaram nem de longe essa compaixão porque "não pertenciam à sociedade", assim como os negros transportados no tráfico de escravos. Sua dor não saiu nos periódicos.
Poderia a literatura transformar esse quadro? Bolaño tentou fazê-lo, certamente. Lembro que, a partir da Comuna, Rimbaud escreveu um poema profético sobre aquela sociedade que se julgava civilizada ao dizimar seus trabalhadores. A poesia tem esse poder de desfazer consensos.
Creio que a coleção de Axat quer, de certa forma, realizar uma redefinição da sociedade argentina por meio do resgate das vozes suprimidas.
Vejam-no falar recentemente sobre a coleção e sobre poesia em dois vídeos no YouTube.
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