O palco e o mundo
Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras. Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem".
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
Algo como um poema: Auto de resistência
Fui escolhido em agosto (mas só descobri depois) vencedor do Prêmio Minas para livro inédito de poesia. A cerimônia de entrega ocorreria em novembro, foi adiada para janeiro, até que, semana passada, foi transferida para 22 de dezembro de 2011. Eu já não podia mais ir. Um pena: não conhecerei Affonso Ávila, o grande homenageado, e os vencedores nas outras categorias, Jeter Jaci Neves (ficção) e André Oliveira Zambaldi (jovem escritor mineiro).
Já conheci, no entanto, por meio de Eduardo Sterzi, o vencedor da categoria de poesia em 2009, Eduardo Jorge de Oliveira.
Escrevi para a cerimônia (e para o livro) um poema, do qual leria, para não entediar ninguém, apenas a primeira parte. Como não estarei em Belo Horizonte, deixo-a aqui para que outros - em toda parte - possam lê-la, inclusive os professores de Minas Gerais.
Auto de resistência
I
o sangue ensina:
os professores
sob cassetete;
o sangue esquece:
nos professores
quem já se infiltra
é a polícia
e os corredores
trocam de pele
como quem veste
todas as cores
carnificinas;
o sangue ensina
aos professores
que não se aprende
senão na pele;
“já não são dores,
mas honrarias
isto que ensina
aos professores
o cassetete:
os corpos febres
transformadores
do que extermina
na própria vida”
e os corredores
caem inertes
sobre os pedestres,
nos vestem hoje
do ontem em dia.
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