30 dias de canções
Dia 15: Uma canção que evoca outras artes
"My Funny Valentine", de Richard Rodgers e Lorenz Hart. São tantas canções que poderia mencionar nesta categoria, que pedi uma sugestão a Fabio Weintraub e ele a mencionou. Logo a adotei, pareceu tão adequada, tão justa.
Trata-se de mais uma canção conhecidíssima. Na década de 1990, lembro de ter lido em uma coluna do jornalista Paulo Francis um elogio a Lorenz Hart, esplêndido letrista, especialmente ao verso "Is your figure less than Greek?", que ele achava o melhor de todos na música popular dos EUA.
Trata-se de mais uma canção conhecidíssima. Na década de 1990, lembro de ter lido em uma coluna do jornalista Paulo Francis um elogio a Lorenz Hart, esplêndido letrista, especialmente ao verso "Is your figure less than Greek?", que ele achava o melhor de todos na música popular dos EUA.
A canção foi composta para um musical que nunca vi, Babes in arms, de 1937, e recebeu centenas de gravações desde então. Talvez eu prefira o que o Quinteto de Miles Davis fez com ela, porém, como a letra, neste caso, é importantíssima, indico os estilos tão diferentes de Sarah Vaughan (ouve-se uma sombra de vaia à sublime cantora em Berlim, pois parte do público patrulhava os músicos que não estavam fazendo músicas de protesto contra a invasão dos EUA no Vietnam) e de Chaka Khan, mais recente.
Ambas interpretaram a canção diversas vezes, mas não sei em quantas delas cantaram sua introdução; para ouvi-la, bem como a todo o resto interpretado à maneira de torch song, sugiro Eileen Farrell, que tinha esta outra carreira: https://www.youtube.com/watch?v=Ym5JETLpCnA; e Dolores Duran, com uma delicadeza exemplar: https://www.youtube.com/watch?v=5fEUToYpL98
Ambas interpretaram a canção diversas vezes, mas não sei em quantas delas cantaram sua introdução; para ouvi-la, bem como a todo o resto interpretado à maneira de torch song, sugiro Eileen Farrell, que tinha esta outra carreira: https://www.youtube.com/watch?v=Ym5JETLpCnA; e Dolores Duran, com uma delicadeza exemplar: https://www.youtube.com/watch?v=5fEUToYpL98
A canção, tanto no contexto do musical quanto fora dele, é uma declaração de amor a alguém que não tão belo(a) assim (a introdução já o diz), mas que é a "obra de arte preferida" do seu amante (a letra não determina gênero) do jeito como é. A música pede que não mude nada, "don't change a hair for me", "stay, little Valentine, stay" – e na palavra stay a voz deve prolongar a nota. Vaughan fica 12 segundos no vídeo acima indicado e emenda a palavra com o "each day".
"Is your figure less than Greek?" – este verso sugere a escultura grega clássica e suas proporções do corpo humano. Esta canção, em certo nível, é de amor; mas, em outro, trata da arte: se aquele ser humano é "não fotografável" e, mesmo assim, é a obra de arte preferida, creio que a canção parte do correto pressuposto de que a beleza do retratado não significa a beleza da obra; estamos lidando com a representação.
E há o pedido de permanência: stay; não se quer, neste caso, um happening ou body art ou algumas dessas manifestações ou artefatos artísticos temporários. Em vez de bater na estátua para pedir que fale, deseja-se que o ser amado se torne obra de arte, porquanto somente assim ele poderá permanecer, poderá ser considerado belo com todas suas imperfeições – pois ele se tornará, perfeitamente, na representação de si mesmo.
Um Pigmaleão invertido: em vez da escultura de mulher ideal que se torna humana, um ser humano comum que alguém, por amor, quer tornar em obra de arte. Talvez somente assim a ideia de que todo dia seja um dia dos namorados possa fazer sentido.
Dia 1: Um retrato à beira da razão, de Tom e Chico
"Is your figure less than Greek?" – este verso sugere a escultura grega clássica e suas proporções do corpo humano. Esta canção, em certo nível, é de amor; mas, em outro, trata da arte: se aquele ser humano é "não fotografável" e, mesmo assim, é a obra de arte preferida, creio que a canção parte do correto pressuposto de que a beleza do retratado não significa a beleza da obra; estamos lidando com a representação.
E há o pedido de permanência: stay; não se quer, neste caso, um happening ou body art ou algumas dessas manifestações ou artefatos artísticos temporários. Em vez de bater na estátua para pedir que fale, deseja-se que o ser amado se torne obra de arte, porquanto somente assim ele poderá permanecer, poderá ser considerado belo com todas suas imperfeições – pois ele se tornará, perfeitamente, na representação de si mesmo.
Um Pigmaleão invertido: em vez da escultura de mulher ideal que se torna humana, um ser humano comum que alguém, por amor, quer tornar em obra de arte. Talvez somente assim a ideia de que todo dia seja um dia dos namorados possa fazer sentido.
Dia 1: Um retrato à beira da razão, de Tom e Chico
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