Eu escrevi neste blogue uma nota de leitura sobre a antologia Si Hamlet duda le daremos morte: Antología de poesía selvaje (City Bell: De la talita dorada, 2010). Ela inclui poetas argentinos que nasceram dos anos 1960 em diante.
Hoje enviaram-me uma resenha publicada na Argentina, que, como as outras que li, não dá a ver. César Vallejo nela é citado, mas não os poemas da antologia, como se não fosse isso que interessasse.
Esse procedimento é estranho, mas não incomum. Para muitos jornalistas, de fato, certamente os poemas não são o que lhes interessa, e sim a lista dos mais vendidos, a propaganda febril e incessante dos suportes eletrônicos de leitura, os hábitos sexuais de poetas, suicídios de escritores, disputas na academia de letras etc. A literatura passa ao largo desse noticiário.
As outras resenhas que li também ignoraram os poemas e se concentraram na apresentação e no prefácio, isto é, apenas nas declarações de princípios e rupturas (no caso, principalmente a briga com o neoobjetivismo). Elas pouco importarão, no entanto, se a poesia não for boa.
Eu acho que a poesia é boa, por isso escrevi esta resenha para o Amálgama, tentando dar a ver como esses novos autores estão a escrever.
Dar a ver, donner à voir: expressão que João Cabral de Melo Neto tomou de título de livro de Éluard (sobre pintura) para expressar o que pretendia com sua poesia.
Acho que o "dar a ver" também deveria ser uma função da crítica. Sei que não consegui fazê-lo bem, pois não pude analisar detidamente cada poeta, ou alguns deles. Apenas tratei o livro como o recorte de uma geração e tentei mostrar o que significa esse recorte, e verificar nele a marca de Bolaño, poeta e prosador que marcou também os argentinos, como neste poema de Lorena Fernández Soto, que não citei na resenha, mas o faço agora, fechando esta nota, por me parecer um bom retrato desse grupo de poetas:
por donde pasábamos
con los pájaros americanos
explotando en plazas urbanas
como esos recortes que decía Bolaño
de miles de muchos dedos flotando en el aire (p. 109)
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