Dia 15: Um livro que era o mundo.
Os grandes livros são um mundo. Criei de forma muito desajeitada um tópico que pode abarcar qualquer coisa. Devo interpretá-lo, pois, para que produza algum sentido.
Poderia escolher um livro que mais me tenha aberto o mundo. Teria que ser a cartilha com que me alfabetizei, O sonho de Talita...
Preferi pensar em uma leitura mais recente, Convergência, de Murilo Mendes. Em seus temas e paisagens, é um livro muito aberto para o mundo (o que não era algo novo na poesia dele, claro). Os recursos da poesia visual (nos "grafitos" e "murilogramas") que ele empregou nesse livro, o último de versos que publicou, reforçam essa impressão - ele foi mais longe no uso desses recursos do que Drummond em Lição de coisas. E o fez sem perder sua personalidade poética. Diferentemente da maioria dos poetas, ele morreu no auge, ainda arriscando e descobrindo.
Esse livro, um dos maiores da literatura brasileira, tem diversas pedras-de-toque magistrais, como "A versão do robô - talvez genuína." ("Grafito segundo Kafka"). Já as destaquei em outro lugar.
No centenário de nascimento de Murilo, escrevi um texto bobinho sobre o poeta, que foi publicado no Ciberkiosk. Em virtude de certas conjunções que desconheço, o texto me abriu portas fora e dentro do Brasil, a tal ponto que, se eu tivesse um santo, seria o Murilo.
Abaixo, transcrevo o meio e o final; eu partia da identificação do Eterno Feminino em Murilo para chegar a Convergência. Eu estava mais preocupado em ressaltar a coerência do livro no quadro da obra dele, e negar as leituras que o viam como um caso lastimável de velhinho decrépito experimentando peruca nova.
Todas as citações de Murilo vem de Poesia completa e prosa, que a Nova Aguilar lançou em 1994.
Orfeu reinventado: Murilo Mendes, cem anos de um poeta contemporâneo
[...]
Murilo, no entanto, como se verá, não se limita a glosar temas clássicos, operação a que se dedicam mesmo poetas menores; o poeta vai além na comunhão com o mito (cavalga-o em pelo), pois o mito, nesta obra, determina a própria poética.
Mas qual seria o conceito de Eterno Feminino em sua poesia?
Além das outras mulheres e da musa existe uma Mulher sem nome, sem cheiro, sem cor, sem peso e sem forma, que penetra todas as coisas e conhece tudo o que se faz e o que se diz. Essa mulher existe desde a origem dos tempos. Talvez ela seja a projeção feminina do pensamento de Deus.
[ A Musa das Musas, O Sinal de Deus (1935-6), p. 758 ]
Na obra de Murilo Mendes, o papel do poeta corresponde a dar forma ao arquétipo; sendo esse arquétipo o Eterno Feminino, tal missão não corresponderia à de Orfeu?
Na ampla sala do "Concert Hall" uma mulher mulheríssima toda vestida de branco, que nenhum ornato mínimo interrompe, canta a parte de Orfeu na partitura de Gluck. Sei quem é: o contralto Kathleen Ferrier que vive um canto pessoal de experiência. O tom cupo desta voz ao mesmo tempo primitiva e refinada restitui-nos a musicalidade gluckeana em sua nobreza de mito arcaico reelaborado.
[ Os Dias de Londres, Carta Geográfica (1965-7), p. 1102 ]
Mais ainda do que Ferrier, a grande contralto inglesa prematuramente falecida, que usou sua voz única para cantar a ópera de Gluck, Murilo Mendes, com a sua também singular voz, pôde assumir-se Orfeu e tornar-se na própria reelaboração do "mito arcaico".
Mário Faustino julgava que Invenção de Orfeu foi um nome "muito bem escolhido" por Murilo para a obra mais extensa de Jorge de Lima (5). Para Wilson Martins, todavia, o título é incorreto, pois Jorge de Lima teria escrito a "imaginação" de Orfeu, e não sua invenção (6). Não interessa aqui o maior ou menor acerto do título desse livro, mas apontar que Murilo, ao escolhê-lo, na verdade revelava mais de si mesmo do que da obra do amigo.
É muito conhecido o mito de Orfeu. Não se irá contá-lo. Deve-se lembrar, contudo, que Orfeu torna-se adorador de Apolo depois de voltar do Hades (7) e organiza o culto a esse Deus; posteriormente, é morto pelas bacantes, seja por ter criado cultos que lhes eram interditos, seja por repudiar-lhes a corte amorosa, ou por ter introduzido o amor pelos adolescentes, segundo Ovídio (As Metamorfoses). A cabeça de Orfeu despedaçado desce o rio cantando e, de acordo com as Geórgicas de Virgílio, ainda chamando por Eurídice.
A busca do Feminino move-lhe a exploração das profundezas anímicas e, conseqüentemente, permite-lhe atingir o seu canto máximo, que supera a própria morte. Nesse sentido, Orfeu é um "apaixonado do Eterno-Feminino" (8).
Na obra de Murilo Mendes é manifesta a "mitificação da mulher" (9). Manuel Bandeira ressalta que a amada adquire um "desdobramento cósmico" na poesia de Murilo, como o "extremo limite" do "conceito petrarquiano de amor" (10). Todavia, a profundidade da exploração mítica de sua obra proporciona a Murilo ver muitas outras faces do Feminino além da mãe e da amada:
A Górgone apresentou-me a tripleface. "Conheço-a de vista e de ouvido", respondi rangendo os dentes.
[A Górgone, Poliedro, p. 1015]
8 – Três mulheres juram ao poeta amor eterno.
.............
14 – Três mulheres apontam ao povo o coração do poeta.
[ Alpha e Ômega, O Sinal de Deus, p. 766 ]
Nesses excertos, entre outros, Murilo refere-se ao arquétipo da deusa tríplice (11), presente em diversas mitologias. Apenas entre os gregos, podem ser destacadas: as três Erínias (ou Fúrias, vingadoras do derramamento de sangue), as três Moiras (fiandeiras do destino) e as três Górgonas.
Outra comparação de fundo mítico presente na obra de Murilo corresponde à identificação da mulher com a lua:
E tu és cíclica,
Única, onírica,
Envolverônica,
Musa lunar
[ A Lua de Ouro Preto, Contemplação de Ouro Preto, p. 519 ]
Também aí Murilo é fiel ao mito. A Lua, demonstra-o Jung, representa o princípio da psique feminina, tanto para alquimia, quanto para a astrologia e a mitologia. Para o homem, corresponde a uma das representações de sua feminilidade inconsciente - a anima da psicologia junguiana (12).
Uma vez que a poesia de Murilo lida com esses conteúdos inconscientes, não constitui matéria para o espanto, apesar de o poeta ter professado o catolicismo romano, a presença de mitos não apenas pagãos, mas renegados pela Igreja de Roma:
A dona da cidade maldita
Penteia os cabelos no relâmpago
........
A dona da cidade maldita.
Lilith, anda solta ao microfone.
[Revelação, As Metamorfoses (1938-41), p. 324-5]
Outro antigo mito: Lilith, a primeira mulher de Adão, que foi criada diretamente por Deus, não a partir do primeiro homem, e que, por não ter-se submetido a seu esposo, passou a conviver com o Demônio (13). Cuidadosamente apagada da Bíblia cristã, Lilith permanece como símbolo da rebelião à repressão do feminino na psique e na sociedade. Murilo, por meio dos microfones do surrealismo, consegue dar voz ao mito no cotidiano.
Não se esgota aí, porém, a presença da mitologia judaico-cristã a expressar o lado negro do Feminino na poesia de Murilo Mendes. A própria cruz aparece como Mulher:
Arrasto a minha cruz aos solavancos,
Tal profunda mulher amada e odiada,
Sabendo que ela condiciona a minha forma:
E o tempo do demônio me respira.
[Indicação, Parábola (1946-52), p. 545]
Segundo Jung, trata-se de um motivo medieval, em que a cruz é vista como a madrasta malvada de Jesus, que tomou e matou o fruto do ventre de Maria (14). Em outro pólo, a Virgem Maria desempenha para Murilo a "encarnação" do Eterno Feminino, que preside o final dos tempos, numa referência clara ao Apocalipse:
(...) sempre enxerguei a cobra com a cabeça achatada debaixo dos pés de Nossa Senhora (...)
[ Raul Bopp, Retratos-Rêlampago (1973-4), p. 1217 ]
Rosa branca do universo, desejada dos povos,
À tua passagem os elementos confabulam.
Através das gerações teu poder se ampliou,
Maria anunciada muito antes de nasceres
[ Regina Pacis, As Metamorfoses, p. 325 ]
(...) se toda e qualquer mulher, desde a mais grosseira até a mais cristalmente fina, desde a mais obscura até a mais gloriosa é mesmo rainha, com ou sem voto daquela que é rainha do céu, dos limbos e da terra, que bota a serpente debaixo dos pés (...)
[ A Rainha do Sabão, A Idade do Serrote, p. 899 ]
Apresentando-me o outro lado coberto de punhais,
Nossa Senhora das Derrotas, coroada de goivos,
Aponta seu coração e também pede auxílio.
[ Poema Barroco, Mundo Enigma, p. 394 ]
Com efeito, o Eterno Feminino pode representar a "aspiração humana à transcendência", de que a Virgem Maria seria a "mais perfeita encarnação" (15). Embora representante da mulher atemporal, Murilo confere atualidade à Virgem Maria, que aparece, no âmbito dos poemas surrealistas de guerra de Mundo Enigma (livro escrito durante o segundo conflito mundial), compartilhando o sofrimento humano (16). O mito não se converte num refúgio contra a História – pelo contrário, nesta obra, como em outros grandes poetas modernos, a História revisita-o.
E a própria guerra pode ser vista como fruto do Feminino, numa identificação da mulher com o morte, outro motivo arquetípico; Jung demonstra que a afinidade entre a lua e a morte, como a viam os alquimistas, era mediada pelo feminino, pois com o pecado original, de que a mulher (ou a lua) teria sido culpada, a morte entrou no mundo (17).
- Vês a morte graciosa?
- Sim, ela inda é muita moça,
Prepara o vestido novo
Para receber a guerra
Que cresce no bojo desta.
[ Visão Lúcida, As Metamorfoses, p. 370 ]
Morte, grande fêmea,
Eu te justifico e te perdôo.
[ Túmulos Reais (Catedral de Palermo), Siciliana (1954-5), p. 572 ]
Assim como Murilo expressa as duas faces do Feminino (a positiva e a negativa), o Eterno Feminino, na figura de Berenice, amada ideal do poeta, apresenta-se em oposição à Igreja-Fêmea (e o poeta não pode amar duas mulheres simultaneamente) e a Deus:
Aponta-me a mãe de seu Criador, Musa das musas,
Acusando-me porque exaltei acima dela a mutável Berenice.
A igreja toda em curvas
Quer me incendiar com o fogo dos candelabros.
[ Igreja e Mulher, A Poesia em Pânico (1936-7), p. 303 ]
Uma idéia fortíssima entre todas menos uma
Habita meu cérebro noite e dia,
A idéia de uma mulher, mais densa que uma forma.
.....
Uma idéia que verruma todos os poros do meu corpo
E só não se torna o grande cáustico
Porque é um alívio diante da idéia muito mais forte e violenta de Deus.
[ Idéia Fortíssima, As Metamorfoses, p. 316 ]
Vestidos suarentos, cabeças virando de repente,
pernas rompendo a penumbra, sovacos mornos,
seios decotados não me deixam ver a cruz.
[ O Poeta na Igreja, Poemas (1925-9), p. 106 ]
Esses exemplos revelam o antagonismo entre o sexo e a religião cristã, pendant terreno da dualidade do Eterno Feminino.
Muito se reprovou a Mário de Andrade (18) por ter saudado A Poesia em Pânico com críticas contra o mau gosto e as "heterodoxias" no trato da religião da Igreja de Roma. É perfeitamente criticável o julgamento de Mário de Andrade, mas não o seu diagnóstico. Murilo, felizmente, como poeta, é um herege: "Intimaremos Deus/ A não repetir a piada da Criação" [ O Poeta Nocaute, O Visionário, p. 242 ].
A presença do Eterno Feminino revela essa superação porque ele antecede a Igreja Cristã e, na verdade, a contém, como mito:
Alguém te contempla
Desde antes do tempo começar.
Mais tarde a Virgem Maria
Navegava nas ondas do céu
Para ver teu rosto.
[ Menina em quatro idades, O Visionário, p. 199 ]
Murilo sabe que "A potência da mulher cria e derruba os deuses." [ Setor Texto Délfico, Poliedro, p. 1036 ] e expressa a precedência do mito em relação ao dogma cristão também no registro cômico, como nesta passagem em que indaga ao espírito de Jorge de Lima sobre o paradeiro da célebre criação de Jorge, a Nega Fulô:
- Você tem visto a Nega Fulô, Jorge?
- Roubou as chaves de São Pedro, ninguém mais entra no céu. Acabará roubando o próprio São Pedro, então vai dar um fuzuê dos diabos.
[ Texto sem Rumo (1964-6), Conversa Portátil, p. 1469 ]
Erotismo e misticismo são marcas do Eterno Feminino na obra de Murilo, como o diz Aragão (19), o que se deve à recusa a renegar o erotismo em nome da espiritualidade. Como lembra Alberto Pimenta, a cultura ocidental oscila entre a sublimação da mulher ou a "misoginia simbolicamente radicada em Eva" (20). Murilo escapa a essa dicotomia milenar por intermédio de seu tratamento heterodoxo dos mitos judaico-cristãos, assim como Mozart recorreu aos ideais maçônicos, depurando-os porém da misoginia em A Flauta Mágica (21).
Os lamentos de Mário de Andrade, antes vistos, e a análise de Wilson Martins (22), que bem viu a identificação herética entre religião e sexo, devem, porém, ser muito relativizados com a lembrança de precedentes na história da literatura. O maior deles foi Dante: transformado em poeta católico por força da necessidade da Igreja de Roma (a inexistência de qualquer poeta que pudesse rivalizar com A Divina Comédia), o fato é que Beatriz foi por ele transformada num "mito herético", na expressão de Harold Bloom (23). Grande poesia e ortodoxia religiosa raras vezes combinam no ocidente.
Em processo assemelhado ao da obra de Dante, onde Beatriz é a essência da poesia, como aponta Bloom (24), a Mulher, em Murilo, é a própria portadora do canto. O encontro mítico com a musa permite-lhe o acesso aos conteúdos do inconsciente; a inspiração compara-se a uma febre que não se debela, num encontro infindo: "7 – O poeta encontra a Musa Berenice e inaugura o estado de febre permanente." [ Alpha e Ômega, O Sinal de Deus, p. 766 ].
Não se pense, todavia, que o poeta é passivo; ele torna-se em um iniciado nos mistérios e lhe cabe alimentar a tradição - e o próprio arquétipo - com as suas imagens:
Sou um campo onde se decide a sorte dos fantasmas.
Não me podes dispensar, crescimento do mito:
É preciso continuar a trama fluida
Pela qual Lilith, Ariadna, Morgana receberão o alimento.
[Corrente Contínua, As Metamorfoses, p. 319]
Tu estás para mim como eu estou para Deus.
[ Ruth, O Sinal de Deus, p. 746 ]
O mergulho no arquétipo permite ao poeta o auto-conhecimento; à Mulher cabe dizer o nome verdadeiro dele mesmo:
Sigo uma mulher com os dentes
E pergunto qual o meu nome.
[ A Janela Verde, Mundo Enigma, p. 384]
- Vestida de água e céu
Voas acima do tempo.
No espelho do futuro
Te assisto refletida.
Serás tu mesma? Ou sou eu.
[ Poema Abraço, As Metamorfoses, p. 370 ]
Nesse último poema, o penúltimo de As Metamorfoses, Murilo compartilha com os leitores a revelação de que o eterno feminino é parte dele mesmo (era ele mesmo a princesa que dormia, como em Fernando Pessoa – também aqui um trajeto iniciático).
Afirmou-se antes que o mito não se restringiu a fornecer temas, e sim teve a função de determinar uma poética. Murilo nitidamente empregou recursos do surrealismo, e isso distingue este poeta de autores menores: a assunção do papel órfico de renovador de mitos - "le poète, lui, peut donner une autre dimension aux grands mythes de l’humanité" [ Texte de Montréal (1967), Papiers, p.1594 ] - por intermédio de uma linguagem de vanguarda corresponde à grande marca deste escritor. Todavia, Mário Faustino pensava que Murilo Mendes fracassou na tentativa de surrealismo no Brasil porque era católico (25)! Ao contrário do outro Mário, Faustino não foi capaz de perceber o caráter heterodoxo do cristianismo de Murilo...
Murilo Marcondes de Moura, com toda justeza, vê na fusão de religiosidade e vanguarda artística o fator diferenciador desta obra (26). Nessa fusão, a religião cristã, a meu ver, serviu para dotar o poeta de poderosos símbolos de ampla difusão social - ao contrário de William Blake, que preferiu criar uma cosmogonia própria, que torna a obra deste outro grande poeta menos inteligível - e de uma ética voltada à questão social.
Quanto ao surrealismo, cumpriu o papel de proporcionar a Murilo a técnica poética de expressar os conteúdos simbólicos inconscientes - e nisso, ao contrário do que pretendia Faustino, não é incompatível com o cristianismo. De acordo com o próprio poeta: "O surrealismo, tentando ultrapassar os limites da razão humana, aproxima-se às vezes consideravelmente da mística." [ 58, O Discípulo de Emaús, p. 822 ]. O discurso poético de Murilo, em que imagens as mais diversas se justapõem (27), revela-se extremamente adequado para expressar o mito - e lhe veda um tratamento ortodoxo e estreito. De fato, poetas que adotam poéticas mais lineares e lidam com os mesmo temas parecem epígonos.
Todavia, observar o cotidiano com os óculos do mito pode levar a uma visão idealizante da sociedade. Embora o desprezo pelas tiranias e o combate às injustiças sociais estejam bem presentes na obra de Murilo, fundamentados numa ética cristã, nela se expressam sentimentos conservadores no tocante ao papel da mulher na sociedade:
Se a mulher não retornar ao seu princípio:
É máquina instalada dentro dela que deveremos vencer.
Quando esta mulher se tornar de novo submissa e doce
[ O Rato e a Comunidade, Poesia Liberdade (1943-5), p. 408 ]
Bendita seja a hora em que conheci o pai de meu filho!
.........
Eu não existia antes de o conhecer.
Ele sabia mais de mim do que meu pai.
[Dulce, O Sinal de Deus, p. 745]
Em processo análogo, Murilo chega a ver no Eterno Feminino, como sede do mistério, o motor da História:
A mulher determina continuamente no mundo uma transformação maior do que todas as revoluções. [ 714, O Discípulo de Emaús, p. 886 ]
O poeta no meio da revolução
Pára aponta uma mulher branca
E diz alguma coisa sobre o grande enigma
[ Parábola, Os Quatro Elementos (1935), p. 270 ]
Pois, para Murilo, a história rege-se pelo tempo mítico. O real não passaria de um "obscuro mito" [ Joan Miró, Tempo Espanhol, p. 618 ] e por isso a URSS é chamada de "virgem imprudente" que se afastara da "comunidade dos filhos de Deus" [ URSS, Tempo e Eternidade, p. 253-4 ]. Ele não se furta a ver a política sob a ótica e a ética dos mitos judaico-cristãos: as guerras demostram que não superamos a luta de Abel e Caim.
Armilavda, Armilavda, o tempo é o mesmo:
As espadas dos tiranos retalham as partituras das sinfonias austríacas,
Nos palácios da Índia com seus deuses
Lutam tropas de párias e soldados nus,
Na China da surpresa e da metamorfose
Morrem crianças e velhos metralhados.
Consultáramos tantos mapas, lêramos tantos livros:
Mas não tínhamos lido a história de Abel e Caim.
[Armilavda, As Metamorfoses, p. 328]
Religião e surrealismo serviram a Murilo na expressão dos mitos. E o de Orfeu talvez tenha sido o mais importante de todos em sua obra, porque lida com o Eterno Feminino como fonte da poesia. Nesse ponto, chega-se a Convergência (1963-6), o melhor e mais incompreendido livro de Murilo Mendes.
Há quem diga que Murilo adotou nesse livro procedimentos da poesia concreta para seguir um modismo (28). Para Wilson Martins, trata-se de um livro com o "espírito dos anos 30" escrito com a "linguagem dos anos 60" (29), ou seja, um anacronismo talvez involuntário. Arrigucci Jr. vê também anacronismo nos poemas em que o construtivismo predomina, como um desvio da verdadeira poesia do autor (30).
José Paulo Paes, que soube identificar o papel primordial do feminino na poesia de Murilo Mendes - ressaltando as "dimensões ciclópicas" da figura da mulher, não consegue apreciar Convergência, livro a que dedica quatorze linhas num ensaio de dez páginas; reconhece-lhe inventividade, mas julga que se trata de metapoesia sobre a "palavra", não mais sobre a "Palavra" (31). Para Bruno Tolentino, Murilo teria sucumbido a ingenuidades e cacoetes em seus murilogramas de Convergência (32). E, de acordo com Wilson Martins, já após a década de trinta a obra de Murilo teria entrado "em irrecuperável processo de senescência literária" (33) - portanto, uma das mais longas decadências da história da literatura.
Não me é possível concordar com tais análises. De um lado, como bem ressaltou Haroldo de Campos (34), Murilo sempre foi um poeta de vanguarda. Por outro lado, Paes, apesar de ter pressentido o mito que anima a poesia de Murilo, não percebeu que a "inventividade" desse livro, em vez de gratuitos exercícios de um virtuose de palavra, correspondia a uma necessidade do mito que governa a obra daquele autor.
Merquior escreveu que o "rigor epigramático" acentuou-se na "obra tardia" do poeta (35); para João Alexandre Barbosa (36), Júlio Castañon Guimarães (37) e Laís Corrêa de Araújo (38), o último estilo de Murilo corresponde ao desenvolvimento da própria obra, e não a uma adesão oportunista às modas literárias de então. No entanto, tais autores não procuraram ver no mito a relação de Convergência com o restante da obra.
Já Fernando Fábio Fiorese Furtado (conhecido autor do livro de poesia Ossário do Mito) constata uma "geografia mítica" em Murilo e refere-se à "tarefa órfica" do poeta (39). Dentro do mesmo espírito - do estudo de como o mito estrutura a obra de Murilo - este artigo pretende apontar, pois, que a fragmentação do discurso poético na obra final de Murilo Mendes corresponde à dilaceração de Orfeu pelas bacantes. Se o mito corresponde a um sistema dinâmico impulsionado pela "substantivação" de um arquétipo e que tende a tornar-se em narrativa (40), Murilo fez dessa narrativa a sua própria biografia literária: deixou que a dilaceração de Orfeu - último estágio do mito - se entranhasse na sua própria poética.
Murilo teria tomado consciência dessa etapa necessária de sua trajetória no poema Grafito Para a Mãe , de Convergência - e mais uma vez se ressalta a importância do feminino e da morte da mãe para a sua poética; morte e nascimento são confundidos e geram o mito na História: "Morte polêmica/ .../ Catapultou-me da esfera do teu ventre / ... / A primeira ruptura: tempo subtraído-te, /História em mito permutada" [p. 630] .
Nesse último livro de versos em português, Murilo exercerá a fragmentação do discurso como nunca antes, numa série impressionante de "grafitos" e "murilogramas" e dos poemas da seção "sintaxe", e o faz como o Orfeu dilacerado pelas bacantes. Penso que essa abordagem da obra do poeta, embora nova, pelo que conheço, não deixa de ser quase óbvia, porquanto o próprio poeta explicitamente declara tornar-se o último Orfeu que, embora com o corpo despedaçado, consegue manter a integridade da voz:
Lacerado pelas palavras-bacantes
Visíveis tácteis audíveis
Orfeu
Impede mesmo assim sua diáspora
Mantendo-lhes o nervo & a ságoma.
Orfeu Orftu Orfele
Orfnós Orfvós Orfeles
[ Exergo; Final e Começo, Convergência, p. 625 e 703 ]
Aceleram os músculos de jovens mulheres vermelhas
Travestidas em jovens mulheres azuis
inclinadas à
ocisão do homem.
[ Murilograma a Claudio Monteverdi, p. 694 ]
Note-se a orfinvenção: Murilo cria novos pronomes para dizer que, no sujeito que canta, é de Orfeu a voz. O poema a Monteverdi, claro, refere-se a Orfeu, mito que o grande compositor abordou em sua primeira ópera, mas sem incluir em sua partitura, da mesma forma que Gluck e à diferença de Haydn e Telemann, a cena que o murilograma invoca: o assassinato pelas bacantes. Seria esse poema, portanto, uma ironia e não uma homenagem a Monteverdi? Penso que não. Conquanto fuja à obra do músico, penso que Murilo decidiu-se a evocar a cena da morte porque ela corresponde ao motivo desencadeador do estágio último de sua própria poética.
Dilacerado pelo Feminino, Orfeu-Murilo, em contrapartida, fere-o com a fragmentação do discurso: "A infância giravênus. A infância viravênus. A atração de Vênus. A atracação de Vênus. A extração de Vênus [...] A camisa-de-vênus. A camisa-de-força ao fanático de Vênus" [ Metamorfoses (3), p. 721 ]; "A dêmona. A demona. A demoná. / A dissonante" [ Desdêmona, p. 710 ]". Resultado do choque do mito (a eternidade) com o contemporâneo (o tempo), o poeta ousa mesmo comparar as duas infelizes e suicidas apaixonadas por Enéas:
Homem autorfeu
Desarticula o autômato da musa.
[ Grafito para Ettore Colla, p. 656 ]
Desdêmona demona: agora desmembrada.
A engrenagem da flor: poeira desmanchada.
[ Grafito na Ex-Casa Paterna, p. 631 ]
A sibila K-F-199
Escreve com dedos de aço:
"G.C. desvenda o signo.
Perdeu-se a sentença da sibila."
[ Grafito para Giuseppe Capogrossi, p. 656 ]
Revisitando o surrealismo, Murilo logra combinar a dilaceração do corpo com a do discurso em poemas que poderiam ser escritos amanhã:
As vísceras representam-me personagens de Jeronimo Bosch
Dirigidas por Luís Buñuel
Provocando-me
Urinando-me
[ Grafito para Augusto dos Anjos, p. 638 ]
E, finalmente, consegue despir-se do idealismo ao tratar do fato social. João Alexandre Barbosa observa nesse livro um processo de dessacralização do real (41), porém essa afirmação deve ser relativizada, pois se os "termos metafísicos" são incluídos numa "semântica de concreções", na expressão de Haroldo de Campos ao tratar de Tempo Espanhol (42), aqueles termos não são expulsos e a metafísica do poeta prossegue na sua concepção do homem, sempre plasmada pela ética cristã.
[...]
Penso que o processo de dessacralização foi movido pelo último estágio do mito de Orfeu, que Murilo passou a assumir; ainda mais do que na obra anterior, o mito deixou de ser simples tema (e nisso poderia levar à idealização do real) para tornar-se poética (a permitir assim a abordagem do homem e da sociedade por meio da fragmentação, que é simultaneamente discurso e paradigma nesta obra). E uma poética de vanguarda. Murilo, em Convergência, preocupa-se com a renovação da poesia, coloca em cheque a herança portuguesa (Não sei se haverá lugar / Para o poeta elegíaco, / E se poderão coexistir/ FINEGANS WAKE e o só. [Murilograma a Antônio Nobre, p. 680] ) e aponta impasses da poética de outros grandes poetas do modernismo brasileiro: Cecília Meireles, que já havia mergulhado no passado com o grande Romanceiro da Inconfidência, e Carlos Drummond de Andrade, que pela última vez havia conseguido renovar a sua linguagem com Lição de Coisas, livro do poema "Isso é aquilo".
O século, ácido demais para uma pastora
de nuvens, aponta o revólver aos mansos
[ Murilograma a Cecília Meireles, p. 688 ]
E agora, Josés?
Além de Cummings & Pound
Além de Sousândrade
Além de "Noigrandes"
Além de "Terceira Feira"
Além de Poesia-Praxis
Além do texto "Isso é aquilo"
Sereis teleguiados?
[ Murilograma a C.D.A., p. 690 ]
Nada, porém, mais afastado da poesia de Murilo, mesmo na sua última fase, do que o movimento concretista brasileiro; enquanto Murilo chega à fragmentação do discurso por necessidade mítica - "O poeta é o prático do espiritual." [ 729, O Discípulo de Emaús, p. 888 ] - , os concretistas querem realizar um "plano-piloto", em que determinações matemáticas pretendem resumir a poética (43), com a renúncia ao absoluto e a concepção do poema como mecanismo (44). Enquanto os concretistas querem a "despoesia" (título de livro de Augusto de Campos), Murilo afirma:
O desomem desova a desarte a despoesia a desmúsica a despedida do homem.
O desomem desova a fome a peste a guerra a morte.
[ O Desomem, p. 717 ]
O Orfeu em que Murilo finalmente se converte, contudo, jamais renuncia à religião cristã, que permanece como o fundamento ético de sua obra. A referência à crise da poesia não pode ser feita sem o pensamento na "crise da aventura do homem, na desintegração do sagrado" [ Ezra Pound, Retratos-Relâmpago, p. 1279 ].
[...]
Fato é que Murilo não tem antecessores nem sucessores na poesia brasileira - segundo Bandeira, foi um "bicho-da-seda", que tirou tudo de si mesmo (47). [...]
A ética cristã e o mito grego; a complexa e rica combinação dessas duas poderosas tradições (48) define o gênio de Murilo e encerra a sua obra em verso:
O juízo final
Começa em mim
Nos lindes da
Minha palavra.
[ Texto de Consulta, p. 740 ]
Notas
5. Poesia-Experiência. São Paulo: Perspectiva, 1977, p. 239.
6. Pontos de Vista: crítica literária. São Paulo: T. A. Queiroz, vol. III, 1992, p. 454).
7. SOREL, Reynal. Orphée et Orphisme. Paris: Presses Universitaires de France, 1995, p.27.
8. É o que afirma Schuré (Idem, p. 35).
9. BARBOSA Leila Maria Fonseca e RODRIGUES, Marisa Timponi Pereira. A Trama Poética de Murilo Mendes. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2000, p. 41.
10. Apresentação da Poesia Brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Tecnoprint, s/d, p. 152.
11. MCLEAN, Adam. A Deusa Tríplice: Em busca do feminino arquetípico. São Paulo: Cultrix, 1992.
12. JUNG, C. G. Mysterium Coniunctionis. Petrópolis: Vozes, 1.º vol., 1985, p. 172.
13. SICUTERI, Roberto. Lilith: A Lua Negra. São Paulo: Paz e Terra, 5.ª ed., 1990.
14. Idem, p. 29.
15. CHEVALIER, Jean, GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio, 2.ª ed., 1989, p. 421.
16. As múltiplas faces de Maria na poesia de Murilo, por sinal, não significam uma contradição do poeta; pelo contrário, correspondem à "pluralidade paradoxal" própria da devoção mariana e estudada pela mariologia (DURAND, Gilbert. A Fé do Sapateiro. Brasília: Ed. UNB, 1995, p. 94-5).
17. Idem, p. 23.
18. A Poesia em Pânico. In: MENDES, Murilo. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar 1994, p. 33-4.
19. ARAGÃO, M. L. Murilo Mendes. In: DIDIER, Béatrice. Dictionnaire des Littératures. Paris: Presses Universitaires de France, vol. II, p. 2327, 1994.
20. Idem, p. 169.
21. KERMAN, Joseph. A Ópera como Drama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.
22. Idem, vol. IV, 1992, p. 33.
23. Abaixo as Verdades Sagradas: poesia e crença desde a Bíblia até nosso dias. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 61.
24. Idem.
25. Idem, p. 213.
26. Murilo Mendes: A poesia como totalidade. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Garamond, 1995:48.
27. CARPEAUX, Otto Maria. Ensaios Reunidos. Rio de Janeiro: Editora da Univercidade : Topbooks, vol. I, 1999: 872-3.
28. CONTI, Mauro Sergio. Obra convencional é requentada. Folha de São Paulo: Caderno Mais. São Paulo, 27 jan. 2001, p. E6.
29.Pontos de Vista. 1995: IX, 91-2.
30. O Cacto e as Ruínas. 2000:120.
31. Os Perigos da Poesia. 1997: 178.
32. Os Sapos de Ontem. Rio de Janeiro, Diadorim, 1995, p. 35.
33. Idem, vol. X, 1995, p. 271.
34. Metalinguagem & Outras Metas: Ensaios de teoria e crítica literárias. São Paulo: Perspectiva, 4.ª ed., 1992, p. 35.
35. Crítica 1964-1989. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990, p. 145.
36. A Metáfora Crítica. São Paulo: Perspectiva, 1974, p. 123.
37. Murilo Mendes. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 84-7.
38. Murilo Mendes. Petrópolis: Vozes, 1972.
39. Murilo nas cidades: os horizontes portáteis da modernidade. In: LOBO, L. e FARIA, M. G. S. A Poética das Cidades. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1999, p. 11-28.
40. Emprego o conceito de Gilbert Durand (Les Structures Antropologiques de l´Imaginaire. Paris: Bordas, 1973, p. 61-3).
41. Idem, p. 130.
42. Idem, p. 73.
43. Com a evolução da poesia concreta, a poesia teria saído da fenomenologia da composição para a "matemática da composição", onde a palavra é usada segundo uma estrutura matemática previamente estabelecida (o que gerou o afastamento de Ferreira Gullar do movimento), de forma a acabar com a diferença entre a poesia e as artes plásticas; Rogério Câmara, no entanto, parece demonstrar que os concretistas acabaram no design ( Grafo-sintaxe concreta: o projeto noigrandes. Rio de Janeiro: Marca d’Água, 2000, p. 121-30).
44. CAMPOS, Augusto de, PIGNATARI, Décio, CAMPOS, Haroldo de. Teoria da Poesia Concreta. São Paulo: Edições Invenção, 1965, p. 155.
45. LAM, Basil. Beethoven: Quartetos de Cordas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983, p.145.
46. STRAVINSKY, Igor. Themes and Conclusions. Berkeley: Los Angeles: University of California Press, 1982, p. 260.
47. Idem, p. 150.
48. Davi Arrigucci Jr. também constata a combinação de cristianismo e paganismo, quando analisa o "sentimento trágico da vida" em Murilo (Idem, p. 112-3). Fernando Fábio Fiorese Furtado bem aponta que não se deve sobrevalorizar o elemento cristão em detrimento do dionisíaco (Idem, p. 27). É interessante lembrar que o próprio poeta identificava a importância do elemento helênico em Mozart, para ele "o mais grego dos músicos" [ Herákleion, Carta Geográfica, p. 1059 ] e "um homem da estatura dos antigos" [ 156, O Discípulo de Emaús, p. 829 ].
Hahaha... não tenho certeza se quem propôs o meme tinha isso em mente... um artigo "de verdade", com notas de rodapé e tudo...
ResponderExcluirE agora o comentário mesmo, que não é nem mesmo um comentário: é mais um suspiro de "que lindo". De "adorei". Me fez pensar em tanta coisa. Na primeira vez que ouvi falar do "eterno feminino", e foi n'"A Moreninha", quando o personagem explica que em cada mulher ama a todas - e depois é que eu vim a saber que isso era chupado de D.Juan, mas na época eu achei bonito e não conhecia a origem.
Lilith eu já escrevi sobre, né. Daquele jeito meio vagabundo que é a minha voz na internet. Tá lá no "outro nome do chopinho feminino". E é mesmo o outro nome. Foi daí que veio. E ontem mesmo estava (re)lendo o livro do Roberto Sicuteri, "Lilith - A lua negra". Que me lembra também Vinícius, "tão linda que só espalha sofrimento/ tão cheia de pudor que vive nua".
Obrigada pela trilha de ontem e pelo texto de hoje.
Obrigado, Renata.
ResponderExcluirTambém gosto muito desse livro do Sicuteri.
Quanto ao artigo (eu acabei inserindo-o quase todo na nota), foi malandragem minha, acho. Eu o tinha escrito em 2001 e o Ciberkiosk, poucos anos depois, foi para o espaço. Como artigo, acho que não presta realmente (acho que hoje escreveria algo muito melhor), mas para uma nota no blogue... tudo bem.
De qualquer forma, acho justo que, neste tópico, tenha entrado um poeta que foi tão (co)movido pelo arquétipo do Eterno Feminino.
Na trilha de ontem, era o próprio Feminino manifestando-se... Laura Nyro e Alice Coltrane!
Abraços, Pádua.
Caro Pádua,
ResponderExcluirBrilhante seu ensaio! Citá-lo-ei em ensaio meu, work in progress ainda sem título, em q defenderei q novos autores, como Márcio-André, Flávio Viegas Amoreira e Diego Vinhas, são de fato descendentes de Murilo num projeto de ressacralização da realidade: do espaço urbano (Màrcio-André), do homo-erotismo (Flávio Viegas) e, mais diretamente na linha de Murilo, do feminino (Diego Vinha). Eu mesmo, qua poeta, trabalho nessa linha, eis meu interesse e minha tese.
Um grande abraço e obrigado pela disponibilização do texto,
Fábio Romeiro Gullo
Obrigado e boa sorte em seu ensaio.
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