O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras e instauram a desordem entre os dois campos.
Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem"; próximas, sempre.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Marco Alexandre Rebelo escreve-me e confirma a inexistência de Alberto Pimenta





No mês passado, publiquei aqui texto, que escrevi originalmente para o extinto Ciberkiosk, sobre o genial autor português contemporâneo Alberto Pimenta: "Da inexistência de Alberto Pimenta". Nas linhas que escrevi para introduzi-lo no blogue, indiquei uma prova suplementar da inexistência, presente no Dicionário de Fernando Pessoa e do modernismo português, coordenado por Fernando Cabral Martins e editado pela Leya. Nesse livro, a referência a Alberto Pimenta, em verbete escrito por Marco Alexandre Rebelo, foi transformada, no índice onomástico, em Alfredo Pimenta! Outro escritor, de outra época.
Eis que Marco Alexandre Rebelo, autor também do livro cuja capa podem ver acima (um ensaio tão original quanto antiacadêmico, em que datas e símbolos servem para apontar ligações insuspeitas entre os três autores do título), escreve-me a respeito do imbróglio. Pedi autorização, e aqui segue a mensagem dele.
A imagem que veem foi tirada de uma exposição no Centro de Artes, comemorativa da editora portuguesa & etc:
http://centrodeartes.blogs.com/etc/
Trata-se da editora de Vitor Silva Tavares, que, em sua longa carreira marcada pela militância contra o fascismo, o colonialismo, o comodismo e a resignação, continua a lançar livros que ninguém mais ousa.



Digo-lhe que, talvez aí por 2003 ou mesmo 2002, li com muito gosto o seu ensaio sobre a inexistência do Alberto. Foi agora, por coisas do acaso, que dei com o meu nome neste texto do seu blog sobre Alberto Pimenta. E por isso lhe escrevo.

Curiosamente, assim que recebi a cópia do dicionário a que tive direito, enquanto colaborador, dei também conta desse erro... Julgo não ter o direito de lhe pedir que, para leitores incautos, deixe claro no seu texto que, à parte desconhecer que índices seriam feitos, não tive eu nenhuma responsabilidade nesse erro e nada pude fazer para que ele não surgisse no dicionário, mas não quis deixar de fazer notar a si a curiosidade.

Fui aluno do Alberto na cadeira de Retórica do Mestrado de Teoria da Literatura (2002-2006), dirigido por Silvina Rodrigues Lopes, na Universidade Nova de Lisboa. A par das aulas de Silvina, as aulas do Alberto foram uma revelação e é, todo esse mestrado, um tempo memorável para mim. Tenho agora a sorte e a alegria de ter o Alberto como amigo. Muito do que escrevo é, de alguma forma, escrito em réplica ao Alberto: umas vezes em conversa, outras em atrito com o pensamento dele.

Por isso, além da citação no verbete "RIMBAUD" do Dicionário de Fernando Pessoa, dois livros de ensaios de Alberto Pimenta --- A magia que tira os pecados do mundo e O Silêncio dos Poetas --- são por mim citados e comentados nos dois livros que editei até hoje:

--- Nietzsche, Pessoa, Borges: Por trás das máscaras (in)voluntárias do acaso, Lisboa, &etc., 2004

--- O Espaço sem Volta: do spleen de Baudelaire aos passos de Herberto Helder, Lisboa, Vendaval, 2008 (Este livro tem como base o texto da dissertação de mestrado, que teve orientação de Silvina Rodrigues Lopes)


Em 2005, fiz também uma recensão crítica à edição de 2003 de O Silêncio dos Poetas: “A arte de ver o silêncio” — Revista Intervalo nº1, Lisboa, Vendaval/Diatribre, 2005

Claro que, como sou tão ou ainda mais inexistente que ele, nada que eu escreva jamais apagará o acaso da bela inexistência do Alberto.


um abraço,

Marco Alexandre Rebelo

2 comentários:

  1. o MAR pois inexiste,propriamente falando, andando as voltas, (de)cifradas, do seu ser desde um estar passageiro, como nós todos; isso o verifiquei num entr´acte de um colóquio, em Paris,nas leituras das suas leituras. Mas ao contrário dos demais, comuns, ele inexiste com um alto grau de intensidade - pela escrita. Como o AP, o Blanchot ou o Pessoa, seus "mestres", fições de si e intervalos do ser, por um pacto com a realidade e a verdade.

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