O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras e instauram a desordem entre os dois campos.
Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem"; próximas, sempre.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Antologia mural de viagem: Argentina, julho de 2012


Estive em Buenos Aires no mês passado e traduzi alguns poemas argentinos em duas notas que publiquei neste blogue (Antologias de viagem Argentina e Argentina II). Eu achava, porém, que iria publicar antes esta outra antologia, de escritos em outro suporte, de caráter essencial e visualmente urbano.
Há um debate nos muros e paredes da cidade. Perto do Coló, a determinada hora,pude encontrar esta mensagem, que já havia se sobreposto a uma outra, que não pude identificar.


Depois achei outra com a mesma inscrição, mas com o "no al aborto" riscado. A afirmação da vida foi mantida, marcando a posição de que a concepção dos direitos reprodutivos não é contrária à vida. Não logrei identificar o que significa a sigla, agradeço se alguém puder informar.


Estive, entre outras, na Librería de las Mujeres, que fica no mesmo quarteirão de uma grande livraria de arte, Asunto Impreso. Os assuntos femininos, porém, estavam escritos também em locais abertos. Nunca havia lido "La lesbofobia mata", e reconheço que faz todo o sentido. Em outra inscrição, a presidenta Kirchner é cobrada para a legalização do aborto - ela já se manifestou contra essa medida.



Aqui, uma crítica anarquista ao matrimônio, igualitário ou não:



Não consegui capturar a imagem sobre o julgamento de Mariano Ferreyra, que vi duas vezes, mas esta sim, bem mais antiga, contrária à extradição dos chilenos Freddy Fuentevilla e Marcelo Villarroel, que acabou ocorrendo.



Como essa, boa parte das mensagens que eu vi eram das esquerdas argentinas. Da COMPA (Coordinadora de Organizaciones y Movimientos Populares de Argentina), e da Frente Popular Daríon Santillán









Outra questão são as reivindicações da memória política. Esta imagem é de um dos milhares de desaparecidos pela última ditadura militar argentina, Carmen Candelaria Román de Iglesias, membro do Partido Comunista:



Alguns dos desaparecidos receberam placas nas calçadas. É o caso de Guillermo Pablo Jolly:


Reivindicação à memória também presente na cerimônia em homenagem às vítimas do atentado terrorista à AMIA (Asociación Mutual Israelita Argentina), que completou 18 anos - "Recordar también es una necesidad basica".



Críticas às continuidades da ditadura no regime democrático:


No caso, tortura e violência policial nesta inscrição da CORREPI (Coordinadora contra la represión policila y institucional):

Um libelo não assinado contra o proibicionismo:


E a atualidade não desmentida deste livro, Nunca más, que ganhou um congênere no Brasil - afinal, tivemos e continuamos a ter tantos problemas em comum:










Um comentário:

  1. perfeito o mural. meu ex-marido tinha por um tempo o hábito de fotografar erros de português -- ortografia, concordâncias etc -- em cartazes e placas nas ruas. há os interessantes parachoques de caminhões. há a necessidade humana mais do que comprovada de se comunicar visual e anonimamente desde as pinturas rupestres. há a beleza disso, independente do que veiculem. ainda que machuque ou doa. abr, Adriana

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