Fui forçado a deixar para hoje, pois, esta publicação originalmente destinada à VI Blogagem Coletiva #DesarquivandoBR.
Em um relatório de fevereiro de 1973 do Serviço Nacional de Informações (SNI) sobre "Comunismo Internacional", foi classificada na categoria "Campanha contra o Brasil no Exterior - Imprensa de Angola, França e Argentina" uma edição de Frères du Monde que noticiou, entre outros assuntos, "a luta das forças guerrilheiras do Araguaia":
Tratava-se de uma revista, publicada de 1959 a 1973, politicamente engajada de franciscanos franceses. Como os braços da censura brasileira não chegavam até a Europa, ela pôde tratar de Guerrilha no Araguaia. Ainda não pude ler essa revista, mas creio que o conseguirei em breve.
Os guerrilheiros que lá estavam eram do PCdoB, e o desaparecimento de vários deles acabou gerando a condenação do Estado brasileiro no Caso Gomes Lund e Outros pela Corte Interamericana de Direitos Humanos há dois anos atrás, motivo desta blogagem (http://desarquivandobr.wordpress.com/2012/11/20/convocacao-da-6a-blogagem-coletiva-desarquivandobr/).
No entanto, não se deve esquecer que Marighella, no fim dos anos 1960, pensou no mesmo local para a guerrilha rural. Embora seu Minimanual do Guerrilheiro Urbano tivesse ficado célebre mundialmente nos anos 1970, o horizonte estratégico desse militante era o campo, o que revelava influência da Revolução Cubana.
Mesmo no militarista Minimanual, pode-se ler uma passagem como a dos sete pecados do guerrilheiro urbano; entre eles, estava a "vaidade", que consistia em desencadear ações na cidade sem se preocupar com o início e a sobrevivência da guerrilha rural. A cidade seria o lugar do "cerco estratégico", que não poderia ser rompido enquanto a luta no campo não se desencadeasse.
Nesta entrevista à Rádio Havana em 1967, Carlos Marighella fala de começar a luta armada no campo: http://www.youtube.com/watch?v=J3CFHY_hwQk
Quando existem condições tais como as que se apresentam em nosso país, essas forças revolucionárias são criadas praticamente dia a dia e hora a hora. O que é necessário é passar à ação. Fazer com que essas forças se coordenem no mesmo sentido e que passem ao desencadamento da luta. Que se preparem. Que vão portanto à área rural, que é onde nós podemos no Brasil desenvolver a luta que pode ser apoiada pelos trabalhadores, por todo o povo dentro das áreas urbanas, e nesse sentido marchar para conseguir a vitória que no Brasil só podemos conseguir realmente se juntarmos nosso esforço ao esforço de todos os outros povos latinoamericanos.Trata-se do otimismo de Marighella nesse ano, que não se confirmaria em 1969, quando a Ação Libertadora Nacional (ALN), sua organização, sofreria diversos golpes da repressão e ele mesmo seria assassinado em operação levada a cabo pelo delegado Sérgio Fleury.
Mário Magalhães conta, na excelente biografia Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo (São Paulo: Companhia das Letras, 2012), que o guerrilheiro confiou a frades dominicanos (entre eles, frei Tito) e a dois leigos a missão de fazer um levantamento de área que, hoje, forma o Estado do Tocantins, com o fim de encontrar bases para a guerrilha. O trabalho foi realizado em julho de 1968. Ao voltar, o frei Osvaldo Augusto Rezende Junior considerou que "seria suicídio" [p. 396] que ela irrompesse naquele lugar, muito vulnerável a ataques aéreos.
Mais adiante, na página 513, Mário Magalhães cita parte de um documento do SNI, datado de 3 de setembro de 1969. Ele pode ser lido no Arquivo Público do Estado de São Paulo:
No documento assinado pelo Tenente-Coronel Walter José Faustini, lemos que:
b) Está previsto até o fim do ano "estourar" uma Guerrilha no Norte de Goiás (Araguaina).
c) Embora esteja previsto a continuação dos assaltos e atos de terrorismo, ["Carlos" escrito à mão] MARIGHELLA está dando prioridade à Guerrilha Rural. MARIGHELLA não tem parado em S.Paulo porque constantemente visita as áreas de treinamento no interior.
d) Há um planejamento geral feito por MARIGHELLA para desencadear em todo o Brasil, "ações de guerrilha que serão desencadeadas antes das eleições de 70".
A guerrilha rural continuava a ser, nesses momentos finais, a prioridade do guerrilheiro. Ela terminou acontecendo, mas por outras mãos, e foi derrotada, tal como a urbana.
Vi que participaram da VI Blogagem Coletiva também:
Maria Carolina Bissoto, de Entre el pasado y el futuro, com "Dois anos da sentença da CIDH":
http://entrepasadoyelfuturo.blogspot.com.br/2012/11/dois-anos-da-sentenca-da-cidh.html
Matheus Rodrigues Gonçalves, do Diário Liberdade, com "Para que nunca mais aconteça: cumpra-se!":
http://diarioliberdade.org/opiniom/opiniom-propia/33389-para-que-nunca-mais-aconte%C3%A7a-cumpra-se.html
Murilo Duarte Costa Corrêa, de A navalha de Dalí, com "A rebelião da memória: os afetos da ordem e uma nova ordem dos afetos":
http://murilocorrea.blogspot.com/2012/11/a-rebeliao-da-memoria-os-afetos-da.html?spref=tw
Niara de Oliveira, de Pimenta com limão, com "Uma dor, um lamento, um pedido":
http://pimentacomlimao.wordpress.com/2012/11/26/uma-dor-um-lamento-e-um-pedido/
Raphael Tsavkko Garcia, de The angry Brazilian, com 'Batismo de sangue e anistia: quando iremos respeitar quem morreu por nós?"
http://www.tsavkko.com.br/2012/11/batismo-de-sangue-e-anistia-quando.html
Renata Lins, do Chopinho feminino, "De peito aberto - Texto de Afrânio Garcia": http://chopinhofeminino.blogspot.com.br/2012/11/de-peito-aberto-texto-de-afranio-garcia.html