O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras e instauram a desordem entre os dois campos.
Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem"; próximas, sempre.

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Campanha de vinte anos de poesia: Assassinato e ascensão do grande escritor

Em algum momento de 2022, completei vinte anos de estreia em livro. Provavelmente só consegui fazê-lo naquela ocasião, e com este volume, "O palco e o mundo", porque o editor era Vitor Silva Tavares. No Brasil, certamente não teria encontrado ninguém para publicar isto naquela época. Alberto Pimenta, sobre quem eu já tinha escrito, fez a intermediação com o Vitor e a apresentação, que muito me honrou. Eis a capa de Gunilla Lervik, no formato típico da editora &etc, o quadrado:



Em geral, os poetas são afoitos e têm que esconder a estreia depois, porém não tive esse problema: felizmente, só comecei a publicar aos 31 anos. Não me envergonho deste primeiro objeto incômodo (para outros; para mim, é divertido) que publiquei.

Triste que Vitor, que tinha esse tipo de coragem editorial de lançar autores estrangeiros inéditos e obscuros (além disso, como sempre, ele não ficava com nada dos direitos autorais), tenha morrido anos depois e a editora (que era uma extensão dele, como um braço, com que agarrava objetos perdidos e os jogava na cara do mercado literário português) tenha sido fechada.

O aniversário, é claro, não tem realmente importância; mas, como Fabio Weintraub está a completar 20 anos de lançamento do seminal "Novo endereço", tive a ideia de fazermos uma campanha conjunta. Daí saiu a campanha "Vinte : Dois":



Achamos que a efeméride, bem modesta em um ano de centenário da Semana de Arte Moderna e da criação do PCB, e do bicentenário da independência do país (que se consumou poeticamente na tentativa falhada do chefe de Estado de puxar um coro de "imbrochável"), justificou chamar os leitores a participar de uma campanha de financiamento coletivo destas edições especiais: https://benfeitoria.com/projeto/vintedois

A Editora Patuá, que já nos publicou antes, aceitou levar adiante a campanha. Já temos 103 subscritores: muito obrigado a vocês e aos que ajudaram na divulgação! Os livros terão que sair, mesmo que não atinjamos a meta: quem contribuir em muito ajuda a publicação. Ainda faltam oito dias, creio que chegaremos mais perto do que os atuais setenta e nove por cento.

A reedição de "Novo endereço" trará novo aparato crítico (além da apresentação original de Priscila Figueiredo, incluir-se-ão textos de Eduardo Sterzi e Gustavo Silveira Ribeiro) e materiais artísticos produzidos para esta edição (além da foto original de Mário Rui Feliciano, teremos arte de Fernando Vilela, Renato Moriconi e Ronaldo Polito). 

Lembro quando o li pela primeira vez, antes do evento de lançamento em São Paulo, a que não fui, por sinal. Morava no Rio de Janeiro, e foi a única vez em que perdi a estação em que iria descer no trem (Madureira), pois fiquei absorto lendo os poemas, que eram realmente algo novo na poesia brasileira.

Resolvi aproveitar o aniversário da estreia para lançar um livro novo que tenho concebido há, digamos, mais de duas décadas, e a que só agora, creio, tive a capacidade de dar forma: "Assassinato e ascensão do grande escritor (seguidos de antologia completa)". Claro que é a história de um crime; afinal, trata-se de poesia. 

Falando em crimes, Fabio mostrou-me que um imbecil, em alguma rede social de que não me recordo, sentenciou que uma campanha chamada "Vinte : Dois" só poderia ter sido criada por apoiadores do chefe de Estado que está a contemplar impávido a destruição dos biomas brasileiros e a violar abertamente o artigo 231 da Constituição da República, entre muitos outros problemas jurídicos e políticos, que demandam uma enciclopédia da abjeção.

Evidentemente, uma afirmação desse tipo teria que ancorar-se firmemente na ignorância completa do que Fabio e eu fazemos e escrevemos (meu livro sobre bolsonarismo, por sinal, foi publicado em 2019; termina com uma tentativa de fuga). É certo que o modelo de argumentação nas redes sociais (na verdade, a ética das redes) é o uso da própria ignorância como fonte de autoridade ("nunca vi...", "nunca li..." e daí tenta-se provar que o objeto da ignorância do sujeito não existe; não deixa de ser filosoficamente interessante). 

No entanto, eu já tinha publicado este vídeo, que mesmo pessoas com esse estilo mais ou menos suave de analfabetismo podem entender:




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