O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras e instauram a desordem entre os dois campos.
Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem"; próximas, sempre.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A partir de Heredia, "Las mandíbulas"

Na primeira vez que fui à Argentina, impressionaram-me bastante os Amordazamientos, obras de Alberto Heredia (1924-2000), que vi no Museu Nacional de Belas Artes em Buenos Aires.
Eles foram realizados entre 1972 e 1974 - anteriores, pois, à última ditadura militar na Argentina, porém contemporâneos de grande violência política - o próprio Heredia foi ameaçado de morte pela Triple A em 1974.
Fabián Lebenglick considerou-os um exemplo do poder antecipatório de sua arte.
A articulação entre memória e política tem gerado naquele país interessantes obras. León Ferrari produziu a série conceitual Nosotros no sabíamos composta de recortes de jornais de 1976 que noticiavam as ações do terror de Estado: "Hallarónse 30 cadáveres en la localidad de Fátima", "Ocho cadáveres en San Telmo", "Aparecen cadáveres". Não sabiam ou não queriam saber?
Heredia possui outro estilo. "Amordazamientos" é mais um exemplo de suas obras com elementos de descarte, de lixo; antimonumentais, enfim. Neste artigo de Natalia March, Las obras de arte como ejes articuladores de la memoria histórica. Buenos Aires 1960-1990, podem-ser ver os Amordazamientos que tiraram do silêncio o que estou transformando em livro. Nesta homenagem escrita por Jorge López Anaya, veem-se outros.
Um poema (As mandíbulas) desse livro futuro acabou sendo publicado na revista portuguesa Telhados de vidro, como escrevi aqui.
Gosto que o poema inspirado pela Argentina volte a ela. Isso ocorre por meio de tradução de Lorena Fernández Soto, com uma breve introdução de Julián Axat. Agradeço a ambos.

P.S. José María Pallaoro, o editor de Libros de la talita dorada, incluiu a tradução no Aromito. Agradeço também a ele:
http://aromitorevista.blogspot.com/2011/02/padua-fernandes-las-mandibulas-i-ii-iii.html
http://aromitorevista.blogspot.com/2011/02/padua-fernandes-las-mandibulas-v-vi-vii.html

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