O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras e instauram a desordem entre os dois campos.
Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem"; próximas, sempre.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

"Um país sai do pum do palhaço"


Um país sai do pum do palhaço;
Informamos que todo pum
é perfumado por bactérias.

Do país do pum do palhaço
sai um estampido, alguns caem;
Comunicamos que nesta zona
são obrigatórios os equipamentos antirruído.

Com o estampido do país do pum do palhaço
explode altaneiro um hino;
Intimamos as salivas a secarem na música oficial.

– O circo já esteve mais cheio...
– Parte do público agora está servindo de pilar da arquibancada.
– Mas eles conseguem ver o espetáculo?
– Não, mas ele não tem graça mesmo.
– Eu rio.
– Para eles é que não tem graça.
– Ah. Tudo bem, então. Mas eles vão aguentar até o fim?
– Claro, senão teríamos uma revolução. Aqui é um circo, não é lugar disso.

O hino: um estampido, pois produzido à bala;
o pum: um país, porque suja e sufoca;
Na boca há milhões de bactérias,
seja na dos vivos, seja dos mortos,
assim como no país.

Pula um Palhaço do Pum do País!
Armado.

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