O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras. Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem".

quinta-feira, 16 de maio de 2024

Toda poesía es hostil al anarcocapitalismo, antologia organizada por Julián Axat



Julián Axat organizou a recente antologia Toda poesía es hostil al anarcocapitalismo (La Plata, Argentina: Pixel/ Chile: Askasis, 2024), com poetas argentinos e de outros países e regiões das Américas.

Na apresentação, ele fala que reuniu uma "assembleia de poetas", no sentido de Alberto Szpunberg, que busca representar a "urgente situação" por que passa grande parte da população argentina:


Desde la llegada al poder de La Libertad Avanza (LLA), en diciembre de 2023, todos los espacios y universos culturales se encuentran amenazados. En esta era neo oscurantista, el mundo de la poesía tiene el revolver de Goebbels apuntando a su cabeza.

Por eso, por una cuestión de supervivencia, la poesía se pone en guardia.


A maioria dos poemas trata criticamente do anarcocapitalismo ou do capitalismo tout court: o título, claro, inspira-se em Juan Gelman, que escreveu que toda poesia é hostil a esse modo de produção econômica.

A foto acima é de Axat e mostra a expressiva arte de Richard Somonte usada na capa. O arquivo do livro pode ser baixado por meio desta ligação: https://elniniorizoma.wordpress.com/wp-content/uploads/2024/04/toda-poesia-es-hostil-al-anarcocapitalismo.verson.final_.pdf

Estes são os autores:


ARGENTINA:

Alberto Cisnero (La Matanza, 1975)

Alicia Vicenzini (Santa Fe, 1967)

Ana Barral (Bahía Blanca, 1962)

Ana Caligaris (Clorinda, Formosa, 1957)

Analía Leonor Contini (Buenos Aires, 1955)

Andrea Edith Homene (Morón, 1967)

Antonio Ramos (Rosario 1950)

Ariel Montesinos (Quilmes, 1974)

Bernabé de Vinsenci (Saladillo, 1993)

Bernardo Carretoni (Alberti, 1992)

Carla Bianco (San Rafael, Mendoza, 1975)

Carlos Aprea (La Plata, 1955)

Carlos J. Aldazábal (Salta, 1974)

Carmen Losardo (Buenos Aires, 1983)

Cecilia Pontorno (La Plata, 1979)

César Beltrán Surigaray (Chascomús, 1952)

Conrado Yasenza (Lanús, 1967)

Coti López (General Belgrano, 1980)

Dafne Pidemunt (Buenos Aires, 1977)

Daniel Ballester (Buenos Aires, 1955)

Daniel Freidemberg (Resistencia, Chaco, 1945)

Daniel Gómez (La Matanza, 1968)

Daniel Krupa (Berisso, 1977)

Daniel Quintero (Buenos Aires, 1959)

Daniel Rotelle (Pergamino, 1956)

Dante Sepúlveda (Villalonga, 1986)

Darío Ledesma (“Palito”) (Tandil, 1987)

Demetrio Iramain (Buenos Aires, 1973)

Diana Szarazgat (Buenos Aires, 1959)

Diego L. García (Berazategui, 1983)

Eduardo Alberto Nico (Eduardo Magoo) (Lomas de Zamora, 1956)

Eduardo Rubinschik (Buenos Aires, 1967)

Enrique Schmukler (La Plata, 1976)

Erika Lederer (Salta, 1976)

Ernestina Elorriaga (Darregueira, 1954)

Esteban Leyes (Quilmes, 1985)

Eugenia Straccali (La Plata, 1970)

Fedra Spinelli (Buenos Aires, 1970)

Fela Tylbor (Puerto Madryn, 1961).

Fernanda Maciorowski (Puerto Madryn, 1982)

Fidel Maguna (Rosario, 1993)

Gito Minore (Buenos Aires, 1976)

Graciela Cros (Carlos Casares, 1945)

Guido Croxatto (Buenos Aires, 1982)

Guillermo Bianchi (Buenos Aires, 1970)

Guillermo Saavedra (Buenos Aires, 1960)

Gustavo M. Luján (Chilecito, La Rioja. 1974)

Hernán Minardi (Carmen de Areco, 1972)

Hernán Nemi (Buenos Aires, 1972)

Horacio Fiebelkorn (La Plata, 1958)

Jerónimo Corregido (La Plata, 1990)

Jorge Felippa (Córdoba, 1949)

José Supera (La Plata, 1981)

Josefina Oliva (La Plata, 1980)

Juan López (Mendoza, 1962)

Julia Dron (La Plata 1979)

Julián Axat (La Plata, 1976)

Julio César Ciccone (Buenos Aires, 1957)

Laura Forchetti (Coronel Dorrego, 1964)

Lautaro Virgilio (Avellaneda, 1989)

Leandro Alva (Temperley, 1975)

Leandro Daniel Barret (Rosario, 1977)

Liliana m. Majic (Buenos Aires, Argentina.1964)

Luciana Cano (Santiago del Estero, 1989).

Mara Oviedo (Villa 21/24, 1990)

Marcos Herrera (Buenos Aires, 1966)

Márgara Averbach (Buenos Aires, 1957)

María Belgrano (San Luis, 1979)

María Belgrano (San Luis, 1979)

María del Pedro (La Plata, 1971)

María Malusardi (Buenos Aires, 1966)

María Manuela Corral (Córdoba, 1980)

María Rosa Montes (Santa Fe, 1952)

María Urrutia (La Plata, 1945)

María Verónica Llull (San Martín, 1975)

María Victoria Fabre (Buenos Aires, 1968)

Mariana Agustina Romano (San Miguel de Tucumán, 1992)

Mariana Finochietto (General Belgrano, 1971)

Marina Arias (Haedo, 1973)

Mario Goloboff (Carlos Casares, 1939)

Martín Pucheta (Gualeguaychú, 1981)

Martín Raninqueo (La Plata, 1962)

Marx Bauzá (San Miguel de Tucumán, 1980)

Matías Fittipaldi (Mar del Plata, 1977)

Mauro Spinelli (La Plata, 1986)

Maximiliano Spreaf (Capital Federal, 1975)

Melina Gigli (Rosario, 1976)

Miguel Martínez Naón (California, Estados Unidos, 1976)

Natalia Notari (Concepción del Uruguay, 1974)

Natalia Pascua Lagostena (Villa Constitución, Santa Fe, 1987)

Nicol Signorini (Río Cuarto, 1993)

Nicolás Aused (Santa Fe, 1977)

Nicolás Prividera (Buenos Aires, 1970)

Nilda Bulzomi (Buenos Aires, 1958)

Ohuanta Salazar (San Miguel de Tucumán, 1975)

Oliverio Saudade (Mateo Fernández) (Embalse, Córdoba, 2000)

Pablo Bilsky (Rosario, 1963)

Pablo Campos (Buenos Aires, 1977)

Pablo Jacinto (Buenos Aires, 1992)

Paula Nogueira (La Plata, 1975)

Pilar Alí Brouchoud (La Plata, 1987)

Ramón Inama (La Plata, 1971)

Ricardo Algranati (Buenos Aires, 1951)

Ricardo Bizzarra (La Plata,1960)

Ricardo Luis Plaul (Tandil, 1948)

Ricardo Rojas Ayrala (Buenos Aires, 1963)

Ricardo Ruiz (Buenos Aires, 1953)

Rodrigo Zubiría (Buenos Aires, 1976)

Romina Freschi (Buenos Aires, 1974)

Sandra Gudiño (Santa Fe, 1966)

Santiago Featherston (La Plata, 1988)

Santiago Rebasa (Buenos Aires, 1972)

Sebastián Jorgi (Lanús, 1942)

Sebastián Pelayo Murray (La Plata, 1972)

Sebastián Russo Bautista (La Plata, 1973)

Sergio Marelli (La Plata, 1962)

Sergio Morán (Mendoza, 1979)

Silvana Melo (Olavarría, 1961)

Silvia Hedman (Oberá, Misiones, 1968) 

Silvina Melone (La Plata, 1974)

Sol Mircovich (La Plata, 1990)

Soledad Rodríguez Sabater (Posadas, Misiones, 1978)

Susana Cella (Buenos Aires, 1954)

Tomás Rosner (Buenos Aires, 1986)

Tomás Watkins (Neuquén, 1978)

Verona Demaestri (La Plata, 1976)

Víctor Cuello (“Pajarito”) (La Matanza, 1976)

Vladimir Jantus Castelli (La Plata, 1975)


ARUBA (PAÍSES BAIXOS)/ ARGENTINA

Arturo Desimone (Aruba, 1984)


BRASIL:

Pádua Fernandes (Rio de Janeiro, 1971)


CHILE

Absalón Opazo Moreno (Valparaíso, Chile, 1978)

Adrián Barahona (Chile, 1973)

Nibaldo Acero (Santiago, Chile, 1975)


EL SALVADOR

César Saravia (San Salvador, 1989)


PARAGUAI

Mireya Ribas Medal (Asunción, Paraguay, 1958)


PERU:

Tamara Padrón Abreu (Lima, 1980)


URUGUAI:

Paula Simonetti (Montevideo, 1989)


VENEZUELA

María Carolina Marschoff (Mérida, Venezuela, 1973)



Além de ter escrito poemas sob dois heterônimos seus acima listados, Julián Axat elaborou outro com  o uso de inteligência artificial (Chat GPT), "cruzando los conceptos Dengue y Virus neoliberal, al estilo poesía beat". Ficou interessante.

Deixo por último a menção a um poeta e músico desaparecido pela última ditadura na Argentina, Daniel Omar Favero (La Plata, 1957), incluído nesta antologia. Sua obra somente foi publicada durante a democracia.

Este é um livro em defesa da democracia.


P.S. Este é meu poema incluído na antologia.


Presidente e excrementos caninos
Pádua Fernandes


Já está pronto para download o aplicativo que permite descobrir entre os excrementos caninos pisados na rua qual deles é o presidente do país.

Não, enganei-me: o aplicativo que merece o seu download, gratuito enquanto não é pago, aplicativo enquanto funciona, para todos enquanto não surge outra forma de vigilância, o aplicativo dá a forma do país aos excrementos, ou dá a forma de fezes para o país, não sabemos ao certo, ainda está em fase de testes, assim como o presidente.

Na verdade, o aplicativo que está pronto é o que descobre o caminho para o país passando pelos excrementos presidenciais evitados pelos cães.

Parece que a versão gratuita do aplicativo não inclui a carta de admiração presidencial para Thatcher, que, até o momento, matou mais argentinos do que ele. O upgrade nível prata inclui campos de concentração para trinta mil debaixo das águas; nível ouro, vem com a reforma administrativa que incorpora as pensões aos campos.

A versão paga do aplicativo oferece a opção reajuste de 1000% de impostos, mas com algarismos ancap, completamente capados; o modelo Empreendedor do Caralho traz buracos nas calçadas tapados com as quedas dos manifestantes; a cor Estado Mínimo mostra o Tanque Máximo com que as forças de segurança patrulham os famintos; a versão Thatcher foi concebida para os órfãos das Malvinas; a cor Valas Anônimas é muito usada em games que treinam para o mercado de criptomoedas; o formato Fome é empreendedor, flexível, resiliente e pode ser aumentado em 100%, 200% ou mais, a depender do preço do voo das contas públicas nacionais para as ilhas do Caribe.

Caribe, Panamá e outros destinos, pois não há mais desabrigo sobre o país, mas apenas superávits crescentes do sol, da lua e dos outros astros sobre os corpos humanos. Bem como da chuva. E dos tiros.

Baixei! Mas não consegui chegar a lugar nenhum… Segundo o aplicativo, acabaram as ruas, enterradas pelos excrementos. De quem? Não se sabe, com esta presidência não há mais diferença entre decretos e latidos.

Quantos presidentes
na história do mundo
vieram dos latidos?
Ele aprendeu
a cagar e mijar
somente nas ruas
hoje interditadas 
por insalubridade geral,
por isso faz do palácio
sua latrina armada,
e ao trânsito dos coliformes
sobre a rua e os corpos
chama de liberdade.
Quando os latidos
se tornam presidentes
e saem às ruas
a que hora
tudo se torna
excremento?
……………………………………………………….

Vocês baixaram o aplicativo? Imbecis. Ele rouba todos os dados.
Não adianta reclamar: não há mais governo, só há os que governam.

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