O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras e instauram a desordem entre os dois campos.
Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem"; próximas, sempre.

domingo, 29 de março de 2020

"O vírus avisa:/ o verme governa"




O vírus avisa:
o verme governa,
penetra no vácuo
da ferida infecta,

e a facada se afia
no visco do verme,
torna-se metástase.
Todo o país fere.

País genocida
com ovos do verme
dentro do palácio.
Devoram-no em breve.

Boca e ânus se uniram
no animal-flagelo;
é capaz do diálogo,
mas com o excremento.

Esta epidemia
tornada governo
edita epitáfios
como seus decretos.

O vírus revisa
no fôlego, a peste,
no sangue, o coágulo,
no governo, o verme,

e os corpos pré-cinza
andam pós-enterro
pelo sanitário
reino do deserto.

O vírus confina,
embora o governo
queira abrir o tráfego
a contínuos féretros,

e a cidadania
só assim se veja:
máscara mortuária
ou ração aos vermes.

Os que financiam
o governo infecto
transformam as fábricas
em caixões abertos.

O verme vomita;
tumor de si mesmo,
espalha-se em látegos
no próprio esqueleto,

e os sons da metástase
ecoam no vácuo
a lei do palácio.
Todo o país fede.

Vomitar o verme,
torná-lo rejeto
de nenhum minério
nesta nova mina

que a epidemia
abriu na política.
O verme vomita
o próprio epitáfio.

Um comentário:

  1. Existem vermes de todas as matizes e para todos os gostos. Esse "poema/verme", por exemplo, figura entre aqueles que ajudam a espalhar o terror em mentes indecisas e funciona como veículo de difusão de mentiras e espetáculo de canalhices !

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