A Daniel Souza Luz, serenamente.
Não acordaste. O sonho
te levou ao não ser,
ou mostrou-te a ti mesmo
irrevogavelmente?
Não acordaste. O sonho
continua, ou findou,
e és tu quem prossegue
indefinidamente?
Não acordaste. O sol
negou-se a ti, ou foi
roubado por teu sono
cosmoilogicamente?
Não acordaste. O sonho
repudia agora o sol,
revê o firmamento
mas eclipsadamente,
ou agora é o sono
a ocupar os planos
terrestres e celestes
anticonscientemente?
Não acordaste. E estavas
ao meu lado. Este lado
meu também virou sonho,
ou a vigília mente?
Rascunhei o poema antes de dormir. Não este, o outro, que perdi. Dentro de algum livro. Reescrevi na semana seguinte. Falhei, acabei produzindo algo diferente. Afinal, não se acorda o mesmo, aquele que recebeu o sono extraviou-se irrevogavelmente durante o sonho. Não tive do que acordar, exceto da perda. Aquele que sofreu a perda também é um outro em relação àquele que a ela sobreviveu. O eu que sonhou, diferente do que adormeceu, se extraviará quando vier o momento de despertar.
Perdi o poema ao acordar. Ele também nunca mais será o mesmo. Reescrevo.
Maravilhoso!
ResponderExcluirObrigado.
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