O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras. Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem".

sexta-feira, 14 de março de 2025

"Caem árvores,/ porém não/ o prefeito"


Caem árvores,
porém não
o prefeito;

assim crescem
os mil ramos
do deserto

e dão sombra
ao desastre
reeleito.

Mil enchentes,
mas a sede
do prefeito

quer sugar
maremotos
no deserto,

águas-vivas
calcinando o
próprio leito.

Rios queimam
na saliva
do prefeito

quando brinda
com as chuvas
ao deserto

que respinga
das mil taças
no seu peito.

Caem árvores,
mas nenhuma
no prefeito

que por onde
ele passa
é o deserto

ou a terra
prometida
aos insetos.

Na madeira
devastada
sopra o vento

que a carrega,
que empilha
os gravetos

numa ponte
para o nada.
O prefeito

a atravessa
e o pedágio
do trajeto

a cidade
paga-o em juros,
dividendos

ao mercado
nu com in-
vestimentos,

Crescerão
as sementes
se o dinheiro

vende enchentes
e especula
com os pleitos

nos gestores
do deserto?



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