O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras e instauram a desordem entre os dois campos.
Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem"; próximas, sempre.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

O tópico dos "5 fatos literários sobre mim"

Ficou ontem em primeiro lugar nas discussões do twitter no Brasil o tópico #5FatosLiteráriosSobreMim, e as mensagens continuam acontecendo. Não consegui ainda entender como ele começou. É interessante que ele tenha ganhado adesão, apesar dos baixos números da leitura e do letramento no Brasil.
Pessoas físicas como eu responderam, mas também jurídicas, como O Estado de S.Paulo, que destacou os grandes escritores brasileiros que trabalharam para o jornal no passado: Euclides da Cunha, Monteiro Lobato e, hoje,  Luis Fernando Verissimo, Ignácio de Loyola Brandão e Mario Vargas Llosa. O jornal mencionou a notícia recente, nele publicada, de poema inédito de João Cabral de Melo Neto.
Entre pessoas físicas não como eu, políticos, vi Lula (claro que do atual ocupante da presidência nada veio sobre artes, exceto insultos a filme que não viu), que menciona livros que leu na prisão e revela que a biografia dele está prevista para ser lançada neste ano por Fernando Morais. Como autor, lembra de seu livro, A verdade vencerá, publicado pela Boitempo.
De escritores, vi a lista do jovem professor Luiz Guilherme Barbosa, que menciona suas visitas a Antonio Candido, a importância de certo romance de Machado de Assis para sua vida, suas publicações sobre ensinar literatura, sua coleção de poesia e o aprendizado de falar em público.
Achei tudo isso tão simpático que faço minha tentativa, também em parágrafos curtos:

Como leitor: Não vou mencionar o primeiro livro que li, escolha que a maior parte das pessoas parece ter feito. O assunto foi um dos tópicos do "30 livros em um mês", uma "blogagem" de que vários participaram em 2011. Lá estão Hilda Hilst, Apuleio, Fernando Pessoa, Dante, Virgilio Piñera, Stravinsky, Cecília Meireles... Mais genericamente, posso dizer que um dos autores mais importantes para mim continua a ser Machado de Assis. Estou sempre (re)lendo crônicas, um imenso universo que a todo momento se amplia, em razão de ainda estarem sendo descobertos textos para jornal ainda inéditos em livro. Uma vez, dei um curso sobre a formação social brasileira em que, para todas as aulas, pude designar um conto desse autor para uma atividade com os alunos. Há uma dolorosa atualidade da matéria dessa literatura: parece-me que não resolvemos os problemas que Machado identificava no fim do século XIX e no início do XX. Escrevi a partir dele este pequeno artigo sobre bacharelismo.

Como autor: Escrevo uns livros desde 2002, três deles em 2019, incluindo meu primeiro romance, Gravata lavada, e meu único livro que teve de nascer como blogue, O desvio das gentes, no gênero poesia, ambos pela editora Patuá. Apesar da diferença de gênero, ambos têm em comum a questão da transexualidade (que é central no romance, pois o protagonista é um homem trans) e o neoliberalismo (tema fulcral das duas obras).

Como tradutor: Entre outras coisas, já selecionei e traduzi poemas de Federico García Lorca para o público infantil, Meu coração é tua casa.

Como organizador: Organizei a única antologia no Brasil, até hoje, da poesia do maior de todos, Alberto Pimenta: A encomenda do silêncio, de 2004. Recentemente, dei uma aula sobre ela na Unicamp em um curso de Eduardo Sterzi sobre poesia portuguesa.

Como editor: Só trabalhei como editor, anos atrás, em uma revista acadêmica de teoria do direito. Além de publicar Heine e Alberto Pimenta (com um texto teórico), pude entrevistar um dos maiores poetas da América Latina, Julián Axat (que é também jurista): "A desobediência biopoética e o direito de resistência". Cito um trecho:
La desobediencia-biopoética, implica lograr un tipo de acción resistente: incidir y contrarrestar el gobierno del residuo-excedencia de las masas marginales en vertederos, por medio de actores que alcanzan a ocupar espacios de poder estatal que a la vez que intentan democratizar al máximo el sistema policial-penal-militar, ingenian políticas sociales populares para devolver espacios de “civilidad” y “vida”, que dotan de herramientas para la recomposición comunitarias, ajenas a las formas típicas del clientelismo político o la reproducción de la desigualdad de clase [...]
Quem ainda não o conhece (sei que a poesia contemporânea argentina não é exatamente a literatura mais divulgada no Brasil), escrevi algumas coisas sobre Axat (por exemplo, sobre poesia e genocídio), traduzi outras (neste blogue, claro, mas também alhures) e ele mantém um blogue bem ativo com seus textos e notícias de suas atividades, El niño rizoma.

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